Sinopse
Em Esta Isla, Bebo, um adolescente de uma cidade costeira de Porto Rico, mora com seu irmão mais velho em um complexo habitacional. A pesca é sua principal fonte de sustento, mas a necessidade os leva a se envolverem em negócios ilegais que prometem dinheiro fácil. Thriller.
Crítica
Vem de Porto Rico a mais nova aposta sobre desigualdades sociais que desembocam em decisões irreversíveis. Poucas questões soam tão intrinsecamente latinas quanto a falta de repartição justa de oportunidades, onde cada passo exige escolhas que deixam marcas definitivas, trazendo consigo fantasmas do passado que jamais desaparecem. Aqui, uma dupla de diretores apresenta um jovem casal que se lança na fuga daquilo que conhecem como destino inevitável. Se Esta Isla não oferece rupturas radicais, abre ao menos janelas para que a incerteza ganhe contornos de esperança em meio à escuridão.

Na trama, dois jovens, Bebo (Zion Ortiz) e Lola (Fabiola Victoria Brown), são engolidos por circunstância extrema quando o garoto se envolve com esquema de tráfico de drogas que, a princípio, parecia apenas complemento de renda. Seu irmão, Charlie (Xavier Antonio Morales), tenta resguardá-lo desse universo degradante, já que conhece de perto os mecanismos que o sustentam. No entanto, a perversidade desse ambiente acaba sugando todos para baixo, corroendo lentamente suas possibilidades. Empurrados para a fuga, o casal é forçado a amadurecer em ritmo acelerado, com o desconhecido tornando-se tanto ameaça quanto única saída. Essa passagem abrupta da juventude para a sobrevivência é o que dá potência dramática à obra.
Durante essa jornada improvável, os dois encontram refúgio um no outro, alimentando cumplicidade que funciona como motor emocional da narrativa. A aventura, guiada pela ingenuidade de quem ainda não compreende inteiramente os riscos, avança sempre sob o peso do medo, que age como combustível constante. A cada esquina, paira a sensação de que algo doloroso pode estar à espreita, intensificando a tensão. Mas o mesmo caminho que intimida também surpreende ao oferecer acolhimento inesperado, num delicado jogo de contrastes. Nesse embate entre predadores e fugitivos, Cristian Carretero e Lorraine Jones acertam ao não permitir que a previsibilidade domine. Quando reviravoltas nada convenientes surgem, o efeito é um acréscimo de interesse e vitalidade à trama, afastando o risco da monotonia.

Esta Isla talvez não revolucione linguagens já conhecidas, mas encontra força ao retratar realidade porto-riquenha sufocada por dilemas sociais e históricos. O longa destaca, de forma visceral, como afetos e sobrevivência se confundem em território atravessado por marcas coloniais. Em tempos de crescente pressão política sobre comunidades latinas, sua trama soa como ato de resistência e, ao mesmo tempo, alerta sobre privilégios muitas vezes invisíveis. Ao final, resta a sensação de que, mais do que enredo particular, o filme projeta denúncia coletiva, que ressoa muito além das fronteiras onde foi concebido.
Filme visto durante o 35º Cine Ceará, em setembro de 2025
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