Crítica

De cunho extremamente moralista, Escola Penal de Meninas Violentadas é o filme de estreia de Antonio Meliande, cuja história passa por uma instituição de correção de comportamento de prostitutas, comandada pela Madre Superiora Maria do Socorro (Meiry Vieira), que visa ajustar a corrupção do pecado carnal no corpo e na alma das detentas, causando nelas uma extrema vigilância de olhares, que variam entre o julgamento conservador e a necessidade de expor uma ótica lasciva, vindo de uma religiosa supostamente casta. O tratamento para as presas é violento, envolve chibatadas impostas por um funcionário masculino bem mais forte que elas. Até a freira mandatária da casa se submete a isso, fazendo questão de gemer em todo o processo, emulando os barulhos típicos de uma transa, exalando prazer nos momentos de castigo e referenciando a prática sexual do sadomasoquismo.

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A realidade do filme tem alguma base no cenário político da época. As punições rigorosas as ex-prostitutas que estão alocadas fazem lembrar os castigos aos torturados, ainda que se use a máscara de fantasia sexual para tais atos. Outra parte “viajandona” é o modo demasiado conservador com que este mundo gira, basicamente culpando a mulher por qualquer manifestação de sua libido. Ao contrário do que título promete, vemos um local onde o abuso e o flagelo de fato ocorrem. As mulheres que deveriam lá se recuperar sofrem novos infortúnios dentro do estabelecimento, em cenas de erotismo grotesco e gratuito que se valem demais dos efeitos sonoros de gritos e gemidos de dor, estes que imitam o prazer do gozo.

Apesar de tratar de modo bastante caricato toda a questão da sexualidade da mulher e de ser completamente execrável sob esse ponto de vista, há questões pontuais positivas em relação ao tratamento da hipocrisia religiosa, fatos que possivelmente fogem até ao que é comumente apontado pela crítica de cinema especializada. A necessidade de manter todas as vítimas castas na realidade esconde uma intensa depravação sexual, que ainda assim é ligada ao demônio e banalizada, claro, em prol de mostrar Vieira, Zelia Martins e Nicole Puzzi com pouca ou nenhuma roupa.

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Escola Penal de Meninas Violentadas termina em uma pífia cena de resgate, que tenciona ser violenta e brutal e soa amadora e risível. Seu argumento não consegue se aprofundar em nada e nem há humor no filme que o faça ser encarado como uma comédia, tampouco existe um caráter de denúncia que o longa aparenta possuir inicialmente, sendo ao final apenas uma decepcionante experiência.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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