Entre Cercas
Crítica
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Sinopse
Avi Mograbi e Chen Alon se encontram com africanos em busca de asilo em um centro de detenção no meio do deserto de Negev, presos pelo estado de Israel. Juntos, eles questionam o status dos refugiados em Israel pelo uso de técnicas do “Teatro do Oprimido”. O que leva homens e mulheres a largarem tudo para irem em direção do desconhecido? Por que Israel, a terra dos refugiados, se recusa a considerar a situação dos exilados, arremessados nas estradas da guerra, genocídio e perseguição?
Crítica
Para quem pensa que cultura é algo supérfluo, que expressões artísticas são apenas uma forma de passar o tempo, que a vida de ninguém pode mudar através da arte, é obrigatório assistir ao documentário Entre Cercas a fim de rever estes conceitos tão errôneos. Utilizando-se de exercícios e técnicas do Teatro do Oprimido, o diretor Avi Mograbi, ao lado de Chen Alon, transformam a existência de refugiados africanos, impossibilitados de viverem em Israel, os confrontando com suas ideias, desejos, vivências e atitudes.
Didático a respeito da situação dos refugiados, Entre Cercas explica de forma clara o que sofrem os africanos em busca de asilo. Os que não são trancafiados na prisão, são mantidos (igualmente presos) no campo de HOLOT, onde aguardam a resolução de sua situação. Enquanto o documentário é filmado, as leis em Israel vão mudando e o período de manutenção dos exilados em HOLOT vai diminuindo – curiosamente, existe divisão entre os africanos lá mantidos, com alguns preferindo a continuidade no local. Avi Mograbi e Chen Alon trabalham com um pequeno grupo, construindo cenários de discussão encenados, utilizando os exercícios para uma maior consciência daquelas figuras. Em dado momento, israelenses são inclusos no grupo, com os papeis sendo trocados. Mograbi corretamente afirma que ao colocar as pessoas no lugar das outras, existe um maior entendimento (até empatia) com a situação alheia.
Entre Cercas não é um documentário arrojado em seu formato, apenas documentando as sessões de teatro daquele grupo, com eventuais entrevistas com outros refugiados. Suas qualidades não são estéticas, mas temáticas. Além de apresentar aquela situação ao grande público, o filme ganha muitos pontos por mostrar como o teatro pode ser uma ferramenta poderosa em uma situação adversa. Aquele grupo – que vai mudando ao passar do tempo – se mostra unido, consciente de sua luta. Mesmo que o futuro seja incerto, sua vivência ali não está sendo desperdiçada.
Dentre os cenários montados pela equipe, chamam a atenção os mandos e desmandos dos oficiais de Israel, como a ONU acaba sendo uma organização que funciona apenas no papel por lá e como as barreiras e o preconceito com tonalidades de pele ainda são capitais para o convívio. São 85 minutos poderosos, nos quais conhecemos figuras que sofreram demais, mas que têm forças para sobrepujar uma realidade devastadora.
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