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Sinopse

Textopolis é a cidade onde os Emojis favoritos dos usuários de smartphones vivem e trabalham. Lá, todos eles vivem em função de um sonho: serem usados nos textos dos humanos. Todos estão acostumados a ter somente uma expressão facial – com exceção de Gene, que nasceu com um bug em seu sistema, que o permite trocar de rosto através de um filtro especial. Determinado a se tornar um emoji normal como todos os outros, ele vai encarar uma jornada fantástica através dos aplicativos de celular mais populares desta geração – e no meio do caminho, claro, fazer novos amigos.

Crítica

Há muito que o cinema, especialmente o norte-americano, não vê problemas em transpor qualquer coisa às telonas. Brinquedos, atrações de parque de diversões, tudo pode servir de base para filmes, inclusive, agora, as carinhas habitantes dos smartphones que todos carregam para cima e para baixo. Emoji: O Filme foca justamente nos emojis, representações gráficas de emoções, muito comuns nos contatos digitais. No começo deste longa-metragem dirigido por Tony Leondis há uma apresentação completa do funcionamento de Textopolis, a cidade-base do aplicativo de mensagens que um pré-adolescente utiliza para interagir, inclusive, com a menina por quem está apaixonado. Ali percebemos que o comportamento aceito é a adequação, especificamente o desempenho, sem desvios, da função à qual se nasce, afinal de contas os nativos têm apenas um rosto, ou seja, servem a propósitos específicos e imutáveis.

Gene, o verdadeiro protagonista de Emoji: O Filme, é filho de pais que exercem o papel social da indiferença – ou “eh”, como optou a dublagem brasileira –, mas enfrenta o incomum infortúnio de não conseguir focar-se, exibindo expressões faciais de outros emojis, o que, dentro da organização da cidade, é catastrófico. No início da animação, incomoda sobremaneira a exploração vulgar das características de cada “morador”. Por exemplo, o cocô é utilizado à exaustão para motivar piadas (sem graça) de duplo sentido. O conflito central da produção demora a adquirir alguma relevância, pois se perde tempo demasiado martelando a posição de determinados personagens, como a da vilã que fala atrocidades enquanto exibe um semblante inequivocamente feliz. As coisas só melhoram ligeiramente quando a trama se desloca a territórios antes desconhecidos, com a jornada ganhando doses de arejamento.

Há incipientes tentativas de estabelecer paralelos entre a aspiração de Gene e a do garoto proprietário do celular onde ele mora. Por exemplo, a subtrama envolvendo a paixonite adolescente do humano pouco acrescenta. Emoji: O Filme, contudo, cresce a partir da adição de coadjuvantes carismáticos, como Bate Aqui e Rebelde, esta a hacker que esconde uma intenção misteriosa. A importância de aceitar a própria natureza é a mensagem central da realização de Leondis. Logo percebemos que, ao contrário do pensamento vigente em Textopolis, a singularidade de Gene não é um bug, mas seu talento especial. Nesse percurso edificante, temos uma série de inserções publicitárias, afinal de contas todo aplicativo visitado pelos personagens é uma boa oportunidade de fazer propaganda de certas marcas, como Spotify, Facebook, Instagram e outras tantas. Isso torna o andamento previsível e cansativo.

Tony Leondis e sua equipe criativa preferem abordar as questões suscitadas num nível bastante superficial, concentrando-se na moral da história. Potencialidades como o breve discurso feminista da princesa, que deveria, inclusive, balizar todo o seu comportamento, isso caso se pretendesse realmente efetivo, cai por terra em prol da necessidade de conduzir o protagonista ao seu destino. Emoji: O Filme tecnicamente é bem bonito, possui um visual hipercolorido que deve cair nas graças do público menor, mas se ressente da falta de espessura dramática para transcender a sua vocação a mero entretenimento genérico e passageiro, porque igualmente destituído de personalidade para além do âmbito visual. Episódico, sobretudo, por conta de sua inclinação mercantil, pelo privilégio aos patrocinadores em detrimento de um desenvolvimento consistente, o filme acaba sendo somente mais um.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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