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Sinopse

Depois de 12 anos de casamento, Rimini e Sofia se separam. Enquanto ele supera as feridas do rompimento, ela continua presa ao sentimento de perda, retornando de modo impositivo à vida do ex mais tarde.

Crítica

A partir da década de 1990, Hector Babenco passou a ser um diretor menos ativo do que fora nos anos 1970 e 1980, com seus projetos tendo espaço de tempo de até sete anos entre um e outro. Esse intervalo diminuiu um pouco depois do grande sucesso alcançado por Carandiru, em 2003, com Babenco voltando a lançar um filme logo em 2007, que veio a ser este O Passado, produção que representou uma espécie de retorno do cineasta às suas origens argentinas. Baseado no livro de Alan Pauls, o roteiro escrito por Babenco em parceria com Martha Goés nos apresenta ao tradutor Rímini (Gael García Bernal), que se separa da esposa, Sofía (Analía Couceyro), depois de doze anos de casamento. Apesar de a separação ser bastante amigável, as coisas entre eles não ficam tão bem resolvidas, o que não impede Rímini de seguir sua vida normalmente, arranjando novas namoradas e conseguindo melhores oportunidades em seu trabalho. Mas Sofía constantemente esbarra nele, se mantendo presente em seu dia a dia e revelando uma espécie de obsessão, o que causa um impacto inesperado.

As aparições repentinas de Sofía poderiam ser consideradas movimentos forçados e até esquemáticos por parte do roteiro. Mas a verdade é que eles acabam sendo perfeitos para ilustrar a ideia que o filme tenta passar. Babenco monta aqui uma obra que mostra quase de maneira literal como o passado pode perseguir as pessoas. Neste caso, Rímini decide ignorar boa parte dos pedidos da ex-esposa ao final do relacionamento (principalmente quando ela solicita que ele escolha as fotos com as quais gostaria de ficar), como se não conseguisse encarar seu passado, que insiste em segui-lo enquanto determinadas coisas não forem resolvidas. E o modo como a história se estrutura envolta dessa ideia não deixa de ser ideal, mostrando como a vida do protagonista acaba sendo afetada pelas decisões que ele toma com relação ao que já viveu.

No entanto, se o roteiro acerta nisso, o mesmo não pode ser dito sobre a narrativa em si, que vai se tornando pouco envolvente depois de um tempo. É algo que se deve em parte pelo desenvolvimento corriqueiro da trama. Em uma cena, por exemplo, vemos Riminí presenciando um momento trágico envolvendo sua namorada, Nancy (Mimí Ardú), apenas para que na cena seguinte ele já apareça casado com a colega de profissão Carmen (Ana Celentano), que logo depois aparece grávida. Com as coisas ocorrendo tão rapidamente, Hector Babenco não consegue impedir que o filme tenha sérios problemas de ritmo, e a história infelizmente perde muito do peso que exibia inicialmente.

Enquanto isso, o talentoso Gael García Bernal interpreta Riminí com sua segurança habitual, fazendo dele um homem que abraça sem pudores a nova vida, mas que fica relutante e um pouco amedrontado sempre que Sofía aparece em sua frente. Isso até deixa certa curiosidade com relação ao porquê de eles terem se separado, detalhe que nunca é explicado pelo roteiro. Já Analía Conceyro convence na forma como encarna o jeito obsessivo e até dependente de Sofía, surgindo sempre com uma bela presença, ainda que a personagem cause desentendimentos que soam um tanto convencionais. O Passado empalidece quando comparado a outros trabalhos de Hector Babenco, como os excepcionais Pixote: A Lei do Mais Fraco (1981) e O Beijo da Mulher Aranha (1985). Mas, de modo geral, ainda mostra ser uma obra satisfatória do diretor, que encontra sua principal força na ideia central que o rege.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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