Crítica


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Sinopse

Duda e sua mãe se mudam para uma antiga casa. No entanto, lá há estátuas de gnomos por todos os lados, e eles, estranhamente, parecem estar mudando de lugar todo tempo. Duda percebe que coisas ainda mais esquisitas estão acontecendo e que, na verdade, elas podem não estar sozinhas. Logo a garota descobre que os gnomos estão vivos e uma grande amizade surgirá entre eles com o propósito de proteger a casa.

Crítica

Há uma boa base, porém mal aproveitada, em Duda e os Gnomos. O longa-metragem animado parte de uma premissa bastante conhecida, que dá conta de uma criança imergindo no fantástico em meio à reorganização de seu mundo atribulado por problemas adultos. Duda e sua mãe se mudam constantemente – e o motivo não fica claro – o que acarreta uma série de dificuldades, especialmente, de socialização. A nova casa parece um castelo assombrado, mas logo a menina se vê diante de gnomos falantes e seus antagonistas monstruosos que ameaçam a paz mundial. Portanto, a protagonista está no fogo cruzado de uma luta da qual parece o fiel da balança, especialmente por ter se apossado de uma pedra mágica capaz de fechar os portais maléficos e, assim, coibir a visita indesejada das criaturas esféricas de dentes afiados, cuja fome parece ser infinita. Cabe a ela fazer o certo e reestabelecer o equilíbrio perturbado.

A primeira coisa que sobressai positivamente em Duda e os Gnomos é a caracterização de uma juventude praticamente abduzida pelos celulares. O diretor Peter Lepeniotis cria momentos engraçados, como quando Duda dá mais importância à integridade de seu telefone, preterindo algo que pode afetar o destino de todo o planeta. Nesse sentido, também se destaca a cena dela atendendo uma chamada da mãe, na função viva voz, com o aparelho indevidamente alojado na barriga de um Trog (os vilões diminutos). Todavia, são praticamente essas as únicas gags mais inspiradas deste longa-metragem. Liam, o sidekick da vez, que, como um clássico nerd, está ali para mostrar a Duda, no médio prazo, o valor da verdadeira amizade, é um personagem frequentemente irritante, com seu comportamento desprovido de noção e um histrionismo difícil de suportar sem desejar vê-lo longe, o que, claro, afeta sua função no filme.

Outro desperdício pontual é a dinâmica escolar. Duda quer ser aceita e se submete aos caprichos do trio mais popular da escola. A líder é uma menina dominadora. Suas asseclas vivem absortas, postando fotos com hastag a cada acontecimento. Duda e os Gnomos investe pouco nessa relação humana, buscando deter-se o máximo possível na interação com os gnomos, criaturas imprevisíveis que, depois de um tempo, perdem o encanto momentâneo e se tornam apenas portadores de piadinhas banais. A contextualização da batalha contra os Trogs acontece da maneira mais didática possível, com um deles desenhando na lousa o histórico da contenda. Serve como uma luva para os espectadores menores, mas soa desnecessário, dada a primariedade da uma luta entre bem e mal, percebida antes do expediente. Os monstrinhos não parecem verdadeiramente perigosos, não no sentido grave.

Duda e os Gnomos exibe algumas conformidades forçadas, como a subtração da gravidade em determinados espaços, assim que oportuno ao andamento da trama, e a devolução da lei da física à condição de imperativo tão logo convenha à resolução. Embora sejam coloridos e engraçadinhos, os gnomos não possuem espaço para fixarem suas personalidades, destacando-se somente em instantes esparsos. Duda, por sua vez, a jovem que precisa desatar nós extraordinários e, com isso, amadurecer para encarar as demandas cotidianas, percorre esse trajeto emocional de forma banal, sem demonstrar transformações além das óbvias. Uma das coisas mais sinceras do filme é quando um dos baixinhos diz não saber a origem, o porquê e nem como a simples planta consegue gerar uma seiva que devolve os monstros à dimensão deles. Tirando sarro da própria inépcia, a animação convence. Como exemplar de aventura, bem como na condição de metáfora do crescimento, se sustenta aos trancos e barrancos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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