Do Outro Lado
Crítica
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Sinopse
Inicialmente Nejat (Baki Davrak) não aprova o relacionamento de seu pai com a prostituta Yeter (Nursel Köse), o que muda quando ele descobre que o pai envia constantemente dinheiro para a Turquia, no intuito de pagar os estudos da filha dela. Nejat cresce apaixonado por Yeter, mas sua repentina morte faz com que ele se afaste de seu pai. Posteriormente Nejat decide ir a Istambul para procurar Ayten (Nurgül Yesilçay), a filha de Yeter. Lá ele descobre que ela se tornou uma ativista política e, para fugir da polícia turca, está agora na Alemanha. Decidido a encontrá-la, Nejat enfrenta diversas dificuldades.
Crítica
Um dos mais interessantes e curiosos filmes a chegar no circuito comercial brasileiro em 2008 tem uma das mais inesperadas origens: a Turquia! Co-produzido ainda pela Alemanha e Itália, Do Outro Lado é mais um belo trabalho realizado por Fatih Akin, o mesmo do surpreendente Contra a Parede, dono de mais de 20 prêmios internacionais em 2004. Mas este novo projeto também obteve o reconhecimento merecido (ou não?): além de ter sido o representante alemão oficial na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2008, foi premiado no European Film Awards e no Festival de Cannes como Melhor Roteiro, dentre os mais de 15 reconhecimentos que obteve em festivais e escolhas de melhores do ano.
E qual é a história de Do Outro Lado? O legal é que só quando a projeção já está se encaminhando para o final é que percebemos a amplitude do discurso que estava sendo narrado. No início somos apresentados a um velho turco que mora em Frankfurt. Aposentado, pede a uma prostituta que vá morar com ele. Aquela decisão não choca o filho único dele, professor universitário. Mas a morte inesperada da mulher irá afastar irremediavelmente os dois, a ponto de levar o mais novo de volta à Turquia, quando parte na busca da filha desaparecida da ‘madrasta’. Quando a procura dele tem início começamos a ficar a par do que a garota vinha fazendo desde então. Ativista política, decide fugir para a Alemanha para evitar a prisão. Uma vez na Europa, acaba se envolvendo com uma estudante. A paixão entre as duas será fulminante, a ponto de mudar as convicções de ambas. Só que a nação germânica é apenas um território de passagem, e não um destino. Assim terminam por retornar, unindo de vez os laços já tão distendidos e proporcionando a formação de uma nova família, não unida pelo sangue ou pelas conveniências, mas sim pela identidade e amor.
Fatih Akin, apesar da pouca idade (tem apenas 35 anos!), é um dos nomes mais incensados do atual cinema europeu. Dono de uma obra irretocável, vem construindo um trabalho acima de qualquer suspeita e digno de mestres muito mais experientes. Ele próprio de ascendência turca – apesar de ter nascido em Hamburgo, Alemanha – consegue fazer da sua própria história elemento de diversas leituras, elaborando uma visão crítica e nem um pouco compadecida com a realidade que aqueles que passaram pela mesma situação – talvez sem tanta sorte – são obrigados a enfrentar. Ele sabe que é um privilegiado, mas nem por isso se exime de expor, por vezes com muita dureza e objetividade, uma verdade que luta para ser expressa.
Do Outro Lado é um filme para poucos públicos. Isso porque é uma obra que exige demais do espectador. Não faz concessões, nem entrega resultados óbvios. Joga principalmente com a inteligência e com a resposta atenta do interlocutor – no caso nós, a platéia. Com um roteiro muito bem elaborado e construído de forma a sempre surpreender, porém sem reviravoltas fáceis, é um estudo sobre um problema universal: a necessidade de nos sentirmos pertencendo a alguém e a algum lugar. Não estamos perdidos no espaço – a ligação que nos une à terra, à família e às tradições. Mas nada como ver o que acontece ‘do outro lado’ sem se deixar envolver. Às vezes tudo que se precisa é criar coragem para dar o passo adiante. E a nova realidade que se estende é sempre um desafio. O que mostra que nem sempre a grama do vizinho é mais verde, ainda mais se não fizer parte de nós.
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