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Sinopse

Diane, Vivian, Sharon e Carol são amigas inseparáveis que embarcam numa jornada cultural repleta de diversão, descobertas e romantismo. O festejo de 50 anos de amizade é atravessado por inúmeras situações inusitadas.

Crítica

Há um diferença fundamental entre Do Jeito Que Elas Querem: O Próximo Capítulo e o seu antecessor, Do Jeito Que Elas Querem (2018), lançado há cinco anos. Se o primeiro filme tinha como protagonistas quatro amigas nos seus sessenta e muitos anos de idade reaprendendo a lidar com questões amorosas e sexuais e, assim, se abrindo para possíveis parceiros, sejam eles recém-chegados ou de longa data, o novo capítulo fala mais do processo de autoconhecimento, delas consigo mesmo e com as outras. Nesse aspecto, tem-se aqui uma história ainda mais feminina e feminista, pois entende que, por mais que se anseie por um final água-com-açúcar no melhor estilo “…e viveram felizes para sempre”, como se a busca por um par romântico encerrasse todas as demais angústias de uma vida, estende-se esse olhar de modo abrangente, incluindo, enfim, aquelas que de fato importam, as amizades que se mantém nos altos e baixos de uma existência e que, numa última análise, são os relacionamentos mais duradouros que uma pessoa pode almejar. Por esse pequeno, ainda que não descartável, movimento, sua simples realização já se justifica.

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Novamente sob o comando de Bill Holderman (diretor e roteirista também do episódio anterior, ainda que mais conhecido por ter produzido todos os principais trabalhos de Robert Redford nas últimas décadas), as premiadas Jane Fonda, Diane Keaton, Mary Steenburgen e Candice Bergen se encontram, agora, em um momento especial de suas vidas, algo que o mundo inteiro compartilhou: a descoberta de uma sobrevivência pós-pandemia. O clipe inicial as mostra isoladas em suas casas, dando sequência às discussões do Clube do Livro do qual participam e voltando a se encontrar após meses sem se verem presencialmente. E quando, enfim, estão mais uma vez juntas, uma notícia chega de forma inesperada: Vivian (Fonda), logo aquela acostumada a fugir de compromissos com homens, está disposta, enfim, a assumir uma aliança em sua mão. Prestes a se casar com o namorado, Arthur (Don Johnson, com quem terminara ao lado na outra trama), ela simplesmente joga essa novidade como uma bomba no colo das amigas, levando-as a questionarem se até mesmo uma verdade imutável como essa pode ser alterada, o que mais não estariam dispostas a rever?

O elemento pós-pandêmico é interessante, pois se trata de uma época de muitas perdas, na qual o planeta inteiro pode parar e avaliar o que de fato é relevante. A essas mulheres, mais do que amores que vem e vão, atividades profissionais ou confusões de última hora, será o companheirismo que uma deposita na outra que, por fim, acabará por ser constante. Se antes o livro que as motivara a rever conceitos (alguns bastante íntimos) havia sido o best seller erótico Cinquenta Tons de Cinza, de E.L. James, dessa vez suas leituras estão concentradas em O Alquimista, do brasileiro Paulo Coelho. E com ele uma profusão de frases de efeito e lições de autoajuda estarão presentes, enquanto que do meio disso o que se salvará são coisas simples, como não desistir de sonhar antes da hora, aprender a acreditar em si mesma e contar com o apoio daquelas que sempre estiveram por perto, pois são essas que estarão ali para estender o braço ou oferecer um ombro quando mais for necessário.

Esta, obviamente, é uma realidade de fantasia para a grande maioria da população, pois se fala de mulheres de uma faixa etária que, por mais avançada que seja – Jane Fonda está com 85 anos, enquanto que a mais nova, Mary Steenburgen, fez 70 em 2023 – não estão falando sobre dores, remédios e problemas de saúde, por mais que o passar do tempo e a consciência de uma finitude não estejam descartadas. É justamente por isso – e condição financeira privilegiada que desfrutam – que decidem partir para uma viagem de despedida (a desculpa é um adeus à vida de solteira daquela prestes a se casar, mas pode ser entendido também como o último momento delas finalmente livres e juntas) por uma Itália nunca menos do que paradisíaca. Isso não quer dizer que não hajam percalços pelo caminho – lá pelas tantas suas malas serão roubadas, o pneu de um carro alugado irá furar, deixando-as perdidas no meio do nada, e até uma noite na prisão estará no menu – mas nada será suficiente para acabar com o bom humor que esbanjam desde o começo dessa jornada. Trata-se, enfim, de um passeio de deleite e diversão, tanto das personas ficcionais, como também das artistas envolvidas (as fotos de bastidores exibidas durante os créditos comprovam essa tese), e aqueles na audiência que conseguirem se conectar com esse espírito deverão se sentir como “parte da turma”.

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É evidente, também, que há prazer, principalmente entre cinéfilos de longa data e admiradores de plantão, em mais uma vez se deparar com essas quatro oscarizadas atrizes (ou quase isso, pois Bergen é a única que não tem uma estatueta dourada para chamar de sua, por mais que tenha sido indicada), responsáveis por diversos sucessos e obras marcantes que encontraram um lugar especial na memória de tantos nas últimas décadas. Certamente não estão aqui para se desafiarem – algo que já fizeram, e muito, em suas carreiras – e é justamente por isso que a confusão entre personagem e intérprete se mostrará tão forte: Fonda é a atrevida e provocadora, Keaton segue cheia de dúvidas e desculpas, Bergen é aquela que não perde uma oportunidade e Steenburgen se mostra, mais uma vez, como a comportada disposta a surpreender, mesmo que no último minuto. Por elas, acima de qualquer coisa, é que Do Jeito Que Elas Querem: O Próximo Capítulo deixa claro que não é a idade que irá impor limites, ainda mais a quem tanto entregou, e muito ainda tem a oferecer.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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