Crítica


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Sinopse

Jocelyn é um empresário muito bem-sucedido, extremamente egocêntrico e egoísta, sempre disposto a inventar mentiras para tirar vantagem em qualquer situação promissora. Um dia, ele resolve seduzir uma bela mulher fingindo sofrer de uma deficiência. No entanto, fica mais difícil sustentar a farsa quando ele é apresentado a nova cunhada, que é realmente deficiente.

Crítica

No que tange à narrativa, existem dois blocos distintos em De Carona para o Amor. O inaugural diz respeito à apresentação do protagonista, feita com tintas cômicas carregadas de exagero. Jocelyn (Franck Dubosc, também diretor do filme) é um quarentão bonito e bem-sucedido, mas com o péssimo hábito de mentir deslavadamente, apenas para sentir-se desafiado. Ele é confundido com um deficiente físico pela nova vizinha, no prédio de sua mãe recém-morta. Pensando que pode ser uma boa angariar a piedade da voluptuosa loira, ele decide levar adiante a farsa, sustentando possuir restrições de locomoção. Até o encontro dele com Florence (Alexandra Lamy), tudo não passa de uma sucessão de incongruências encenadas com a intenção de extrair graça do absurdo. Esse mitômano inveterado é desenhado como uma figura torpe, com quem é difícil desenvolver qualquer empatia. É um rico mimado fazendo troça da crença alheia no ser humano. Um pulha.

A entrada da cadeirante Florence na trama promove contornos românticos, dirimindo a esfera cômica, superficial e grosseira, até então prevalente no longa-metragem. Isso faz muito bem a De Carona para o Amor, pois, ao menos, evita que os instantes constrangedores, supostamente engraçados, de antes se repitam com tanta frequência. Há uma fórmula visível guiando as circunstâncias. Não é difícil prever que o solteirão convicto se sentirá cada vez mais atraído por essa mulher incrível. Ela é linda, inteligente, excelente musicista, atleta de notável desempenho na quadra de tênis e possui um temperamento solar. Há uma clara overdose de qualidades imputadas à mocinha, como que para “compensar” o fato dela não caminhar, o que, por si, oscila perigosamente entre a demonstração de capacidades e o contrapeso para justificar o interesse do homem. Tudo leva a crer que a felicidade está nesse encontro, mas a mentira dele pode colocar tudo a perder.

De Carona Para o Amor explora insistentemente o suspense em torno da necessidade de Jocelyn revelar-se a Florence. Franck Dubosc estica, para além do aceitável, um acúmulo de situações em que a verdade está prestes a vir à tona, mas retorna para a escuridão no último momento. O único efeito evidente dessa repetição é, justamente, entendermos que tudo caminha subterraneamente para outro lado, não menos convencional. Há cenas em que o romantismo passa da ordem do belo, como os pombinhos afundando gradativamente numa piscina, à deflagração de uma afetação contraproducente, com um ângulo superior mostrando o vestido dela adquirindo a forma de uma figura impecável, procedimento que artificializa o efeito desejado. As engrenagens desse romance improvável são azeitadas insuficientemente, sendo consideráveis pela construção da personagem de Alexandra Lamy, cujo comportamento foge aos estereótipos, o que sempre conta pontos.

Enquanto Jocelyn é um cara convencional, refém da própria covardia – daí a necessidade de criar camadas substanciais de falsidade cotidiana –, Florence é fabulosa, menos por todas as qualidades que o roteiro imputa a ela canhestramente, sobremaneira pela demonstração de uma autoestima cativante, bem como por conta da resolução quanto ao desejo. O fato de ela tomar a iniciativa, expressando a vontade de fazer sexo com o amado, é um traço que subverte a expectativa, antes de qualquer coisa, relacionada ao machismo nosso de cada dia. Ela, de fato, é uma mulher forte, convicta, com mais a ensinar que a aprender. De Carona para o Amor é totalmente previsível, pois telegrafa seus passos com larga antecedência, mas tem seu charme, especialmente quando deixa de lado as tentativas desajeitadas de fazer rir com piadas excessivas e sem graça, se focando no relacionamento promovido a elemento principal. As idealizações e atalhos fazem parte desse pacote oscilante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Roberto Cunha
7
MÉDIA
6

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