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Sinopse

Em Los Angeles, uma série de crimes coloca em alerta a vida de dois grupos: a unidade de elite do departamento de polícia local e a equipe de assaltantes de banco mais bem sucedida do estado. Os criminosos planejam um roubo que aparentemente é impossível, num banco localizado no centro da cidade.

Crítica

Gerard Butler geralmente é o herói (como na maioria dos filmes em que aparece), mas também já fez as vezes de vilão (Deuses do Egito, 2016). Que tal, portanto, combinar os dois lados em um único personagem? É mais ou menos isso que pretende Covil de Ladrões, longa de estreia de Christian Gudegast, roteirista de um dos sucessos recentes do astro, Invasão a Londres (2016). Seu personagem, ‘Big Nick’ O’Brien, pode até estar no lado da lei, mas, como anuncia em certo momento durante a trama, ele e seus colegas é que são os verdadeiros ‘bad guys’ (os caras maus). A ideia parece interessante, pena faltar ao cineasta de primeira viagem coragem suficiente para leva-la a contento até a conclusão de sua história.

Sim, pois O’Brien quer se fazer de machão impenetrável desde sua primeira aparição, quando chega a uma cena de crime com a cara inchada da bebedeira da noite anterior, porém sem dar o braço a torcer. Ele é o delegado responsável por aquela região de Los Angeles – a capital mundial de assalto a bancos, segundo os letreiros que volta e meia surgem na tela não demoram a anunciar. E após um assalto que resultou em vários mortos e o sequestro de um carro-forte vazio (exato!), ele e seus subordinados terão que desvendar esse mistério – quem são esses novos bandidos, muito bem aparelhados, e o que pretendem com ações aparentemente inexplicáveis como essa – antes que os agentes superiores do FBI se intrometam em suas investigações.

Tudo parece começar a se alinhar quanto encontram o ponto fraco da equipe de ladrões: Donnie (O’Shea Jackson Jr, de Straight Outta Compton: A História do N. W. A., 2015), um atendente de bar que se tornou conhecido após ser preso durante uma disputa de racha. Sem medo de enfrentar altas velocidades, acaba se tornando o motorista do grupo. Só que, após ser pego pelos policiais que não seguem a cartilha dos bons moços, ele se torna espião destes. Sem experiência, não demora para que o bando perceba que há algo de errado com ele, e acaba dando com os dentes no outro lado, também. Assim, se vê como agente duplo para salvar a própria pele: revela aos dois o que ambos querem saber, ao mesmo tempo em que fica claro possuir uma agenda muito própria, sem estar disposto a, literalmente, ‘entregar o ouro ao bandido de mão beijada’.

Seria um ponto de vista interessante – os mocinhos que são piores do que os bandidos – mas faltou ousadia ao realizador para ir até o fim com o seu plano. E isso fica evidente quando decide apostar numa subtrama envolvendo o protagonista vivido por Butler, revelando o seu lado “família”. Sim, pois após mais uma noite de exageros, quando chega em casa no dia seguinte a esposa lhe dá um basta, e após uma discussão parte, levando consigo as duas filhas do casal. Ele simplesmente desmorona, deixando de lado rapidamente o lado invencível que vinha pregando até o momento, para revelar outro muito mais frágil e inconsistente. Há mais duas cenas dele envolvendo a questão familiar, e a pior é quando, após conversar com a caçula através de uma grade durante o intervalo escolar da menina, ele volta ao carro e ameaça uma cara de choro, expressão que lhe é tão estranha que nem ao menos consegue ser convincente. Onde está o durão que deveria colocar o terror nos vilões?

Apesar de não ter divulgado oficialmente o valor do seu orçamento, os pouco mais de US$ 70 milhões que Covil de Ladrões arrecadou nas bilheterias de todo o mundo (o último filme estrelado por Butler a arrecadar tão pouco foi Um Bom Partido, de 2012) parecem ter sido suficientes para animar os produtores, a ponto de uma continuação já estar confirmada para os próximos anos. Sem boas cenas de ação, personagens que pouco conseguem ir além do mero clichê e motivações pífias, não é de se espantar, no entanto, se muitos na audiência esboçarem mais bocejos do que pulos de emoção durante o desenrolar da trama. E se, no meio de tanto marasmo, o sono for mais forte, não se preocupe: esse é mais um daqueles filmes que nos últimos dois minutos decide apostar numa “ops, foi só uma pegadinha” e recontar tudo o que foi visto até aquele momento, porém sob outra ótica. Quando você está ligado ao enredo, um recurso como esse até pode pegar alguém desprevenido. Infelizmente, o que acontece aqui é justamente o oposto, servindo apenas para aumentar a frustração com tanto alarde diante de algo que absolutamente nada de novo tinha a apresentar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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