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Sinopse

Enquanto está hospedado num hotel inglês com a avó, Luke espiona uma convenção de bruxas e descobre que elas estão planejando transformar todas as crianças em ratos. As bruxas percebem que Luke as ouviu e testam a fórmula nele.

Crítica

Há um charme inigualável nos efeitos especiais práticos. A textura dos artifícios digitais é bem menos propensa ao grotesco, para começo de conversa. Em Convenção das Bruxas, nova versão às telonas do livro de Roald Dahl, a suntuosidade dos cenários e figurinos elaborados prevalece, mas há uma perda significativa justamente do tônus terrífico por conta das técnicas utilizadas. Certamente a Grande Bruxa de Anne Hathaway fica devendo no quesito impacto imediato se comparada à interpretada por Anjelica Huston na primeira adaptação do texto aos cinemas. Ela é atemorizante com sua bocarra, mas lhe falta o aspecto quase canônico de bruxa enrugada, sendo uma atualização de certo modo soft da líder dos demônios que têm ojeriza a crianças. Como diante de todo remake, é bom perguntar-se: qual a novidade por trás da atualização? A única justificável, para além das questões comerciais, é o protagonismo negro. Porém, é bom perceber que a questão racial passa longe de ser fortemente debatida e instigada por metáforas ou qualquer coisa que as valham.

O melhor desse Convenção das Bruxas é sua meia hora inicial, quando nos deparamos com o drama do menino interpretado por Jahzir Bruno, mergulhado num oceano de tristezas após ficar órfão de pai e mãe. Sua avó (Octavia Spencer) tenta confortá-lo, mas nada parece suficiente. A questão fantástica entra em cena somente após esse preâmbulo que acaba com o retorno da alegria e o primeiro encontro com uma bruxa. Ele é iniciado nesse mundo de feiticeiras carecas com garras no lugar de mãos e pés sem dedos. O cineasta Robert Zemeckis se esforça para manter crepitando o horror. Ele é o subsídio dos contornos lúdicos da trajetória de alguém que tem seu processo de crescimento dificultado por uma circunstância traumática. Uma vez que a mitologia é totalmente destrinchada – com a avó contado sobre procedimentos das vilãs de enfeitiçar a todos com guloseimas –, o filme se transforma numa aventura cada vez mais banal, com pouca densidade dramática e praticamente andando em ponto morto. Ao chegarem ao hotel, os personagens se desconectam da essência.

A única feiticeira que importa em Convenção das Bruxas é a de Anne Hathaway. As demais são meros adornos numericamente expressivos, cuja finalidade é aumentar a dificuldade da missão de impedir a mutação de todas as crianças em ratos. A partir do momento em que Octavia Spencer passa a ser a única humana entre os mocinhos, o filme se torna uma versão levemente horrenda de O Pequeno Stuart Little (1999), sem que o experiente diretor investigue aqueles ratinhos-humanos a partir de suas particularidades. Daisy (voz de Kristin Chenoweth), por exemplo, tem seu desabrochar comprometido por essa displicência, exatamente, com as engrenagens do horror, de tal jeito que vira um apêndice, importando mais antes de revelar-se. Claro que estamos diante de um filme pensado para um público prioritariamente infantil, mas isso não significa automaticamente aparar arestas em função de uma suposta diversão. Robert Zemeckis modela claramente a voltagem desse conjunto (insosso) para nunca perder de vista as credenciais ao selo “para toda a família”.

Diante das recentes demandas por uma maior representatividade nos cinemas, é muito bem-vindo que certas reimaginações troquem o protagonismo branco pelo negro. E não há, evidentemente, qualquer obrigação de transformar a causa racial num fervilhar, como se a existência do protagonista afro-americano gerasse necessariamente uma incumbência nesse sentido. Entretanto, Robert Zemeckis organiza peças como se estivesse disposto a mergulhar, ainda que obliquamente, nesse terreno, haja vista os hóspedes inexoravelmente brancos e a quase totalidade de empregados negros. Afora essa indisposição – que a alguns pode soar como indício de uma conveniência com os anseios também do mercado – a trama é conduzida apressadamente. Quanto ao elenco, apenas Octavia Spencer tem espaço para construir alguém com atrativos convincentes. Já Anne Hathaway não empolga como a vilã de contos da carochinha, em parte responsabilidade da estética das bruxas medonhas (pero no mucho). Ela parece desconfortável, como se estivesse engessada dentro desse arquétipo de um ser bizarro, traduzido simplesmente como a mais pura personalização do mal.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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