Crítica

Paranoia é uma cópia de Paranóia, porém sem se assumir como um remake. A confusão, no entanto, é facilmente explicável. Paranoia, afinal, é o título original de Conexão Perigosa – denominação tão genérica quanto o próprio filme em si. E Paranóia (2007), por outro lado, é como foi chamado no Brasil o longa Disturbia, estrelado por Shia LaBeouf alguns anos atrás. Os dois, no entanto, partem do mesmo princípio: a teoria de que, num mundo em que todos estão conectados, a privacidade é algo que deixou de existir, e tudo pode ser controlado a todo momento, em qualquer lugar. Argumento, aliás, que desde A Rede (1995) tem se mostrado presente com impressionante frequência. E com cada vez menos originalidade – como podemos perceber mais uma vez.

Como LaBeouf já está com mais de 30 anos – um velho, ao menos em Hollywood – aqui ele é substituído por um novo rosto: Liam Hemsworth, irmão mais novo de Chris Hemsworth (o herói Thor dos filmes da Marvel). Ele é Adam Cassidy, um gênio da informática que, ao lado de alguns colegas, desenvolve um novo software para a empresa de aparelhos telefônicos onde trabalha. Dispensado sem maiores explicações, é recrutado logo em seguida para receber uma oferta arriscada e, possivelmente, generosa: assumir um posto na empresa do rival do antigo patrão e cumprir uma missão de espionagem industrial. O concorrente planeja lançar um novo modelo de smartphone, e se ele descobrir o que é antes da novidade chegar ao mercado sua recompensa pode ser alta. Caso contrário, as ameaças serão intensas.

Conexão Perigosa é um filme feito inteiramente para o estrelado de Liam, um possível talento em ascensão. É curioso tentar entender o que fazem nomes como Harrison Ford e Gary Oldman envolvidos em um projeto tão óbvio e raso quanto esse. Os dois são os chefões, inimigos que chegaram a ser melhores amigos – e sócios – no passado, mas que hoje disputam com armas e dentes a liderança do negócio que conduzem. Mas Robert Luketic, diretor mais conhecido até então por ter realizado o cor-de-rosa Legalmente Loira (2001), não tem habilidade suficiente para conferir autenticidade à trama que busca desenvolver. É ridículo, por exemplo, estarmos diante de uma luta de gigantes da tecnologia chamadas Wyatt e Eikon, enquanto todos – TODOS – os personagens em cena usam computadores Apple – ainda que a palavra iPhone não seja mencionada nem uma única vez, a maçã símbolo da empresa construída por Steve Jobs está por todos os lados!

Outro elemento explorado a ponto de ser constrangedor em Conexão Perigosa é a presença em cena do protagonista, sempre fotografado com o brilho necessário para – ainda que forçosamente – torná-lo um astro. Metade do filme ele está sem camisa, o penteado não apresenta um fio fora do lugar e, por mais que corra para salvar a própria pele – como um jovem Tom Cruise dos tempos de A Firma (1993) – não há uma única gota de suor em sua testa. Mas será Liam Hemsworth mais do que ombros e topete? Um argumento medíocre, o roteiro previsível e os coadjuvantes em ponto morto pouco lhe ajudam nessa tarefa de provar se possui o que é preciso para adquirir o mesmo status que o irmão já desfruta. Quem sabe numa próxima vez?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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