Crítica


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Sinopse

Maximo é um homem muito mulherengo. Ele acaba de ser despejado pela esposa rica, que o troca por um rapaz bem mais jovem. Forçado a voltar a morar com a distante irmã, ele parte em busca de um novo relacionamento amoroso para manter sua vida luxuosa.

Crítica

Inicialmente, Como se Tornar Um Conquistador parece um daqueles filmes de humor raso, pois apoiado em gags, no mínimo, de gosto duvidoso. Todavia, na medida em que a trama avança, incorporando elementos familiares ao plano do protagonista gigolô, passamos a ter algo, senão particularmente sofisticado, até bastante surpreendente. Maximo (o impagável Eugenio Derbez) está casado há 25 anos com uma multimilionária. Ainda na infância, prometeu a si mesmo uma vida de luxos, assumindo desde cedo a sua disposição para juntar-se com quem pudesse sustenta-lo. Da sedução na juventude – saindo da piscina e soltando uma cantada barata que, afinal, funciona – à maturidade, ele deixa de ser um alpinista social para se transformar em rico. Melhor dizendo, marido (dependente) de mulher rica. No princípio da produção, acompanhamos a sua rotina de mordomias, um verdadeiro desfile de excentricidades que inclui a coleção de carros esportivos e os numerosos empregados. Entretanto, tudo acaba repentinamente.

Derbez interpreta um latin lover propositalmente estereotipado. Aliás, um dos valores do longa-metragem é justamente a habilidade para brincar com os rótulos, tornando-os constantemente motrizes da descontração. Trocado por um “exemplar” jovem, Máximo, não necessariamente tão atlético quanto antes, ou seja, em desvantagem na corrida pelo apreço de alguém que o banque novamente, precisa reconectar-se com a família por ele negligenciada quando a maré estava boa. Sara (Salma Hayek) repele a presença inusitada do irmão falido, mas rapidamente cede, deixando-o instalar-se provisoriamente no quarto de seu filho, o tímido Hugo (Raphael Alejandro). O diretor Ken Marino investe na deflagração das diferenças e mágoas, de maneira simples, porém funcional. No começo, a convivência é truncada. Logo, as animosidades se abrandam, sobretudo quando Maximo vê no interesse do sobrinho pela neta de uma ricaça a oportunidade de voltar ao circuito dos endinheirados. Como se Tornar Um Conquistador não é exatamente excepcional, mas possui ótimos momentos cômicos.

O que injeta gás na narrativa é a interação entre Maximo e Hugo. O tio resolve dar algumas lições ao infante de como atrair a atenção da menina amada. O garoto, então, ganha confiança gradativamente por conta da ajuda do parente. Como se Tornar Um Conquistador se beneficia do evidente carisma de Raphael Alejandro, ator mirim que forma uma dupla afiada com o experiente Eugenio Derbez. Aliás, o mexicano esbanja talento com seu tipo repleto de caras, bocas e olhares pretensamente calientes, servidores dos intentos jocosos do roteiro que mexe frequentemente com a ideia do sexo atrelado à latinidade. Salma Hayek vive uma mãe responsável, que há muito fechou o coração ao amor, ainda que flerte desajeitadamente com o vizinho. A presença do outrora bon vivant obviamente desestabiliza o cotidiano dela, assim como o do filho aspirante a feitos científicos, contudo, também os ajuda a descobrir novas possibilidades de viver. O percurso é reconhecível, mas nem por isso menos divertido.

Há determinadas recorrências contraproducentes no filme. Exemplo disso, o atropelamento de um cadeirante, episódio que perde a graça ao ser repetido. Já outros elementos periféricos são bem-vindos, pois engrossam esse molho preparado com pitadas de inglês e espanhol. O principal deles é o amigo de Maximo, Rick (Rob Lowe), que tem de aderir às estranhas fantasias sexuais da esposa mais velha, claro, se não quiser perder a posição privilegiada. Menos representativa é a participação de Kristen Bell na pele da cuidadora dos gatos, embora ela ajude o protagonista a reencontrar o caminho depois de uma grande adversidade. Se pensarmos nele como produto, Como se Tornar Um Conquistador é talhado para atender ao mercado latino, tão importante dentro da fatia doméstica da arrecadação norte-americana. Felizmente, o faz privilegiando a competência dos atores, que extraem ótimos instantes da premissa afeita à reciclagem de procedimentos comuns, aqui engendrados com perspicácia.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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