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Sinopse

John Murdoc acorda sozinho num hotel localizado na cidade em que sempre é noite. Não demora muito para esse homem desmemoriado descobrir que é o principal suspeito de uma série de assassinatos bizarros.

Crítica

Lançado nos cinemas um ano antes de Matrix (1999), Cidade das Sombras tem alguns pontos de contato bem curiosos com a icônica sci-fi das irmãs Lana e Lilly Wachowski, chegando a adiantar alguns de seus temas. No centro desse interessante filme de Alex Proyas – o primeiro depois do exitoso, mas conturbado por conta da morte do protagonista Brandon Lee, O Corvo (1994) – está John Murdoch (Rufus Sewell), um homem aparentemente comum, casado com a bela cantora Emma (Jennifer Connelly), que, repentinamente, se vê enredado numa trama envolvendo um poder maior que controla as mentes e os destinos da humanidade, sendo ele o único capaz de pôr fim a esse domínio. Nada muito diferente da situação vivida por John Anderson, ou Neo (Keanu Reeves), em Matrix, portanto. Ambos os protagonistas são tratados pelos respectivos filmes como “escolhidos”, salvadores esperados para libertarem os homens de um jugo aparentemente interminável.

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Proyas, no entanto, evita as discussões sobre tecnologia e paranoia com as máquinas que interessam às Wachowski, fazendo de Cidade das Sombras um filme menos preocupado com grandes discursos explicativos sobre a situação experimentada pelos personagens (ainda que eles existam em menor medida na narrativa) e mais com a criação de um grande pesadelo expressionista. Nesse sentido, é fundamental para Proyas o visual de seu filme, concebido de maneira a remeter diretamente a clássicos do expressionismo alemão, como O Gabinete do Dr. Caligari (1919), de Robert Wiene, e Metrópolis (1927), de Fritz Lang.

Essa opção pelo onírico torna Cidade das Sombras um filme instigante, que ao mesmo tempo consegue manter sua trama aberta a leituras diversas (consta que o projeto original seria ainda menos didático, com o estúdio intervindo e forçando a introdução de uma narração em off explicativa do esquisitíssimo personagem de Kiefer Sutherland) e criar imagens marcantes por seu aspecto distorcido, sombrio. As assustadoras figuras dos vilões da trama, chamados de Estranhos, por exemplo, são uma grande criação de Proyas. Trata-se, provavelmente, ao lado dos filmes dos anos 1990 de Tim Burton, da melhor releitura do expressionismo alemão feita pelo cinema norte-americano nas últimas décadas.

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Só é uma pena que tamanha criatividade visual e ousadia para permitir ao espectador preencher as muitas lacunas de uma história enigmática sejam engolidas pela montagem picotada, que dá a Cidade das Sombras um ritmo excessivamente frenético, apressado, raramente deixando o espectador se debruçar sobre as imagens que surgem na tela ou mergulhar nos meandros da trama. Proyas parece se render à obrigação de fazer um filme de ação, quando tinha nas mãos um material muito mais propenso ao horror fantástico. E em matéria de filme distópico de ação com discussões sobre liberdade e existência humana, Matrix de fato se saiu bem melhor no ano seguinte.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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