Crítica
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Sinopse
Estrela do programa de TV Chorar de Rir, Nilo Perequê é um grande nome da comédia no país. Quando ganha o prêmio de melhor comediante do ano, o humorista decide mudar radicalmente sua carreira e se dedicar totalmente ao drama, deixando sua família e seu empresário desesperados.
Crítica
É com lástima que se constata, ao assistir ao longa do diretor Toniko Melo, que apenas metade do que se promete no título é cumprido. Afinal, a única reação cabível após uma sessão de Chorar de Rir é ir às lágrimas, e nunca ao riso frouxo e descontrolado. Aqui é espectador é convidado a se deparar com uma produção problemática, que fica alternando entre extremos a todo instante, como se nunca chegasse a encontrar um caminho ao qual se dedicar com afinco. O resultado, como não poderia ser diferente, é nunca menos do que esquizofrênico. Há, durante os pouco mais de 100 minutos de projeção, no mínimo uns cinco filmes diferentes dentro de um só. E nenhum deles, curiosamente, é ao menos interessante. É uma colagem, uma colcha de retalhos feita de restos de argumentos que já foram mais pertinentes, mas que aqui não chegam sequer a se apresentar de forma curiosa, quiçá digna de atenção.
São muitos os responsáveis pelos problemas verificados em cena. Leandro Hassum parece estar enfrentando uma crise de identidade após ter emagrecido quase a metade do seu peso. Afinal, um bom exemplo são os dois títulos que o astro estrelou nas últimas campanhas presidenciais: se O Candidato Honesto (2014) – quando ainda ostentava uma barriga notável – foi um grande sucesso, a continuação O Candidato Honesto 2 (2018) não arrecadou nem um quarto do volume alcançado pelo episódio anterior. Chorar de Rir faz parte desse movimento de querer se mostrar um artista mais diversificado, porém sem a coragem de abandonar por completo os maneirismos que lhe deram fama e fortuna. Assim como a claudicante interpretação que entregou na nova versão de Dona Flor e Seus Dois Maridos (2017), mais uma vez ele se apresenta num meio termo entre o exagero e o descartável, literalmente com um pé lá e outro cá. E como é fato, o que acontece em casos assim é que se termina por cair no chão, sem alcançar a contento nenhum dos objetivos.
Hassum aparece como Nilo Perequê, o maior comediante do Brasil – algo que é dito literalmente em cena – que entra em crise por não acreditar que seus colegas de profissão possam levá-lo à sério. Nesse ponto, é importante perceber: ele não está preocupado com o público, que lota auditórios e o persegue nas ruas, com fervorosa admiração e saudável alegria. Tudo o que lhe interessa, portanto, é agradar o próprio ego. Até poderia ser uma jornada interessante – afinal, todos sabem que os mais tristes são os palhaços – se levada minimamente à sério. Não o que acontece, no entanto. Pois se começamos com o conto íntimo de um homem que tem tudo, menos o que mais almeja, logo a trama se transforma em uma narrativa sobrenatural (!) que, literalmente, cai do céu, sem aviso ou preparação. Um constrangedor Sidney Magal aparece como um mago que amaldiçoa o protagonista: ele agora só será capaz de provocar graça, por mais que se esforce em ser dramático.
Chama atenção a partir deste ponto que toda tentativa de Hassum em ser engraçado resulta em embaraço e vergonha, nunca em comédia – nem mesmo entre os demais personagens! Se isso não fosse o suficiente, a narrativa se altera novamente, para a introdução de elementos de comédia romântica: uma gravidez inesperada, um par amoroso com o qual o astro não possui a menor sintonia (Monique Alfradique até se esforça, mas não exibe disposição suficiente para alcançar o ritmo do protagonista) e um duelo de ciúmes (com o cineasta vivido por Felipe Rocha) que chega a se ensaiar mais de uma vez, mas nunca vai além disso. Uma mudança de rumo novamente se impõe, e quando se percebe o público é colocado diante de um mistério que faria Agatha Christie corar. E se resta alguém que ainda não se levantou e partiu dessa para uma – definitivamente – melhor opção, basta observar o desperdício de coadjuvantes de talento comprovado, como Otávio Müller, Fulvio Stefanini, Natália Lage, Rafael Portugal, Jandira Martini e, principalmente, Perfeito Fortuna, todos servindo mais como decoração de cenário do que com oportunidades válidas para mostrar o por quê de estarem presentes.
José Roberto Torero escreveu, há mais de duas décadas, o curta-metragem Um Homem Sério (1996), que apresentava um comovente desempenho de Ary França como um artista que vivia do riso, por mais que chorasse no seu interior. Talvez tenha sido esse mesmo efeito que o roteirista buscava ao participar do texto de Chorar de Rir. Se foi sua intenção de fato, no entanto, nunca se saberá, pois o diretor Toniko Melo (VIPs, 2010) e Leandro Hassum demonstram determinação de sabotarem qualquer movimento que poderia elevar este conjunto acima da vala comum a qual se destina a maior parte das comédias brasileiras mais preocupadas com o retorno rápido das bilheterias e menos com a satisfação consistente da audiência. No final, o que se encontra é algo constrangido por ser aquilo ao qual se destina, reafirmando a mensagem problemática que a própria trama deveria se encarregar de combater: afinal, só o drama é arte, e ao riso se destina apenas o descarte leviano? Como se vê, é possível chorar de desespero, de tristeza, de frustração, de decepção. Mas de rir, infelizmente, não há como.
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