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Sinopse
Em Caramelo, Pedro é um chef em ascensão. Ele sonha em comandar seu próprio restaurante. Mas, quando tudo ia bem, recebe um diagnóstico grave e passar a conviver com uma doença. Nesse caminho, redescobre a graça da vida com a ajuda de um vira-lata amarelinho. Família.
Crítica
Não é de hoje que o subgênero dos “filmes de cachorro” ocupa seu espaço no imaginário popular. Entre as confusões que marcaram a saga Beethoven e as lágrimas arrancadas por Marley & Eu (2008), parece não haver meio-termo possível: ou rimos com o caos ou nos desmanchamos de emoção. Caramelo, novo longa de Diego Freitas, não tenta fugir dessas tradições – e talvez nem devesse. O mérito está justamente em equilibrar um pouco de cada extremo, alcançando uma ternura genuína. Há, no centro da narrativa, sentimento de familiaridade, um calor tipicamente brasileiro que transforma um cachorro de rua em espelho da própria humanidade.

Na trama, Pedro (Rafael Vitti) é chef em plena ascensão profissional. Num mesmo dia, vê sua vida virar ao avesso: é promovido a chef principal de um restaurante refinado e, quase simultaneamente, encontra um vira-latinha de olhar manso e pelagem dourada, com quem sente uma conexão imediata. O acaso vira destino quando decide adotá-lo, batizando-o de Caramelo. A partir daí, a rotina se divide entre o brilho da cozinha e as sombras que começam a rondar sua saúde, já que Pedro descobre que está com câncer, notícia que o obriga a revisitar suas prioridades e a repensar o que realmente o move. Caramelo, sem poder falar, se torna companheiro, guia e testemunha silenciosa dessa travessia.
Escrito por Rod Azevedo, Carolina Castro e o próprio Freitas, o enredo acerta ao se manter simples – e, por isso mesmo, verdadeiro. O trio de roteiristas, acostumado a transitar entre diferentes tons do cinema nacional, constrói uma história que poderia facilmente resvalar no melodrama, mas o drama flui sem chantagem emocional. Há poucas trilhas sonoras invasivas com apelos fáceis à lágrima, dando dando tons naturais, orgânicos e cotidianos – dentro do possível, sem abrir mão de certa leveza narrativa que torna a experiência acessível. É um equilíbrio discreto, que se sustenta pela clareza das intenções e pela confiança na força da própria história.
E Rafael Vitti, ainda que não seja ator de grande potência dramática, encontra no papel o controle perfeito para suas limitações, pois seu Pedro é sujeito comum, levemente desajeitado, cheio de boas intenções e vulnerabilidades, ou seja, a cara do próprio Vitti, mais carismático do que grande ator. Freitas, por sua vez, demonstra sensibilidade ao não transformá-lo em galã de novela. Há coerência entre homem e cachorro (que na vida real se chama Amendoim): ambos simples, puros e um pouco perdidos, mas intensamente cativantes.

Há diferença notável em Caramelo: um sopro de brasilidade que torna tudo mais próximo. O filme resgata, com carinho, o imaginário popular em torno do “cachorro caramelo” – símbolo não oficial, mas inconfundível, do país. Tão presente em ruas, praças e lares, o vira-lata cor de mel carrega em si uma síntese da nossa identidade: resistência, afeto, e, principalmente, cor mista, indo dos açúcares cristalizado ao mascavo. Não à toa, já se falou até em incluir sua imagem nas cédulas do real, como reconhecimento a essa figura que parece atravessar classes e fronteiras. Em tempos de incerteza, aqui há lembrete de que a esperança pode ter quatro patas e um coração disposto a nos acompanhar, sem julgamentos, até o fim da jornada.
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Grade crítica
| Crítico | Nota |
|---|---|
| Victor Hugo Furtado | 7 |
| Miguel Barbieri | 4 |
| MÉDIA | 5.5 |

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