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Sinopse

Em junho de 2005, o Parlamento espanhol aprovou a lei do casamento gay, que outorga aos casais gays os mesmos direitos que aos casais heterossexuais, incluindo a adoção. Prefeitos como o de Valladolid, uma das maiores cidades da Espanha, fizeram uma convocatória para boicotar a lei. Por outro lado, Francisco Maroto, prefeito de Campillo de Ranas, um pequeno povoado de cinquenta habitantes perdido nas montanhas de Guadalajara, levantou a mão e disse: “Eu caso”. Ray, um garoto americano, e seu namorado espanhol, Pepe, chegam a Campillo para se casar.

Crítica

Quando o parlamento espanhol aprovou o casamento gay, nos idos de 2005, prefeitos de algumas metrópoles tornaram pública a sua indignação, chegando, inclusive, a fazer convocatórias para boicotar a lei que instituía igualdade. Veio de Campillo de Ranas, povoado com certa de 50 habitantes, o mais considerável ato de resistência aos focos de conservadorismo. Francisco Maroto, prefeito da cidade, ele próprio homossexual, decidiu abrir as portas da localidade para casais gays que pretendessem contrair matrimônio. Campillo Sim, Quero se dispõe a documentar os esforços do político no sentido de garantir a união civil de homens que amam homens e de mulheres que amam mulheres. Por si importante, a insólita situação sustenta o nosso interesse, mesmo ao identificarmos – e isso não demora a acontecer – que, do ponto de vista puramente cinematográfico, há falhas graves que entravam o todo.

O cineasta Andres Rubio utiliza uma linguagem rudimentar para tentar dar conta das possibilidades intrínsecas ao gesto do prefeito inclusivo de Campillo de Ranas. Determinadas sequências são interrompidas abruptamente, sem mais aquela. Isso quebra, sobremaneira e inevitavelmente, o ritmo do documentário. A estrutura básica de Campillo Sim, Quero é simplória. Os ápices são as cerimônias presididas por Francisco, entrecortadas por depoimentos aleatórios de moradores e visitantes. A falta de habilidade faz com que os potenciais sejam demasiadamente subaproveitados. Temos um filme mal resolvido no que tange à polêmica advinda do choque externo entre visões de mundo bastante distintas, pois a aborda apenas superficialmente, e tampouco empenhado em transcender o caráter meramente romântico, evidenciado na sucessão de solenidades caracterizadas pela repetição.

Campillo Sim, Quero se apoia quase totalmente na força dos fatos registrados e, especialmente até a metade, não esclarece o verdadeiro foco de sua narrativa. Os casais em busca de oficialização são encarados como simples peças de uma conjuntura, embora respeitosamente. O realizador se detém um pouco mais sobre a história do norte-americano de enlace marcado com um espanhol. Eles ganham espaço, expondo ligeiramente as dificuldades de assumirem-se homossexuais perante a família, entre outras complexidades, mas nem isso evolui a contento, por conta da necessidade flagrante de apressar o transcorrer do filme. Infelizmente, privilegia-se a quantidade ao invés da qualidade, uma vez que há recorrências. Os casórios são filmados sempre de ângulos similares, sem quaisquer variações que ampliem o escopo construído a partir dos fragmentos anteriores. Não há vontade de crescer, de expandir-se.

Mas, o maior “pecado” de Campillo Sim, Quero é não conseguir esquadrinhar o prefeito Francisco Maroto devidamente, preterindo as diversas esferas de seu posicionamento político em prol de um mal enjambrado delineamento de sua vida pessoal. Mesmo em meio ao emaranhado de equívocos do filme, Maroto ainda sobressai como uma figura extremamente simpática, que não cansa de discursar a favor da instauração do respeito e do urgente reconhecimento dos direitos dos gays que decidem se unir. É, então, com atenção que acompanhamos o casamento dele, numa cerimônia filmada banalmente, como todas as demais. O aspecto, principalmente o visual, é próximo ao dos vídeos familiares. A atitude de Maroto, o envolvimento da comunidade e a celebração do amor são elementos que, sem dúvidas, poderiam render algo muito mais rico, multifacetado e, certamente, significativo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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