Crítica
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Sinopse
Crítica
Numa sessão de exorcismo, filmada ordinariamente pelo cineasta Diederik Van Rooijen, há um evento potencialmente forte em Cadáver. Impotente diante do espírito maligno que possuiu irremediavelmente a sua filha, o pai interpretado por Louis Herthum comete filicídio, supostamente obliterando as influências nefastas do demônio. Corta para três meses depois, quando se vê o processo esquemático de aclimatação da perturbada Megan (Shay Mitchell) à nova função de atendente de necrotério. O roteiro oferece uma introdução didática ao início dos trabalhos, com o superior detalhando os pormenores de um lugar tão asséptico e tecnologicamente equipado que pouco lembra um espaço de manuseio de cadáveres. Assim, telegraficamente, o filme nos mostra todas as possíveis brechas a episódios terríficos, como as lâmpadas acendidas com o sensor de movimento, por exemplo. É como se o diretor dissesse “atenção, essas luzes começarão a denotar a presença do mal”. Bingo.
Não bastasse a previsibilidade constantemente alimentada, Cadáver possui, ainda, uma protagonista decalcada de outras tantas, um carbono destituído de matizes próprios. Ela aceita a labuta nas madrugadas, num lugar aflitivo para muita gente, porque é uma ex-policial em processo de cicatrização. Suas feridas advêm de um episódio traumático, no qual não teve forças suficientes para evitar que seu parceiro fosse alvejado durante uma batida. Portanto, novamente estamos diante de uma agente da lei torturada por um instante de congelamento, em que a coragem foi posta à prova com consequências perturbadoras. O realizador joga migalhas referentes à sua luta contra o vício em medicamentos, não conseguindo, porém, sustentar com isso dúvidas quanto à natureza das visões que ela passa a ter. Sem função, esse background acaba por se juntar a boa parte dos elementos utilizados na construção desse filme, em suma, tolo e bastante frágil.
Diederik Van Rooijen não dá conta de produzir uma atmosfera de tensão permanente. A chegada do corpo da menina morta pelo pai, retorcido pelas tentativas do mesmo de destruir a carcaça onde o diabo ainda reside, constitui uma nova camada, igualmente anódina. Os jump scares mal enjambrados, com ausência de timing, são componentes que evidenciam a debilidade de Cadáver, sua aposta infrutífera no impacto emocional da constatação de que algo sobrevive na defunta que teima em evadir da gaveta. Durante esse percurso absolutamente acidentado, as questões concernentes ao vício de Megan são rebaixadas à categoria do sem importância, isso na medida em que se acentuam os embates entre ela, ligeiramente próxima do ex-marido, e a criatura de olhos azuis cintilantes, regenerada sempre que mata alguém chegado à ela. O longa-metragem cria uma dinâmica soporífera, em que o susto imediato sobrepuja a noção ampla da instância de horror.
Cadáver não é um desperdício completo por conta da concepção visual verossímil do corpo pretensamente inanimado, cheio de marcas, como cortes profundos no pescoço, partes carbonizadas e afins. Essa qualidade da maquiagem garante pequenos momentos de apreensão, com a câmera rapidamente detida nos detalhes macabros. Fora isso, prevalece uma lenga-lenga enfadonha sobre recaídas e um corre-corre genérico, com a decupagem não logrando êxito na tentativa de amplificar a violência e um possível amedrontamento. Com atuações no modo automático, o que prejudica sobremaneira a adesão emocional aos personagens, esse horror bebe de várias fontes perceptíveis, mas não dá conta de ir além de chafurdar em lugares-comuns e torcer para que a simples visão do demônio que manipula um cadáver, então aspirante à vida, seja suficiente para atemorizar o espectador. Carente de impacto, é uma produção esquecível que apenas requenta (mal).
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 2 |
Roberto Cunha | 3 |
MÉDIA | 2.5 |
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