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Sinopse

A fita produzida pelos jovens foi vista por milhões de pessoas ao redor do mundo. O sucesso do filme criou uma indústria do turismo macabro em Burkittsville, Maryland, onde o vídeo fora rodado. No entanto, desde que os primeiros turistas chegaram ao local, coisas estranhas e bizarras acontecem.

Crítica

A Bruxa de Blair foi lançado em 1999, mas segue dividindo espectadores até hoje. Há quem considere o filme uma obra-prima do terror e há, também, aqueles que se incomodam com a monotonia do enredo e a maneira não convencional de contar a história. Ame ou odeie, é inegável o impacto cultural desse jovem clássico independente.

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Apesar de não ser pioneiro em found footage (Holocausto Canibal já usava as mesmas técnicas em 1980), o longa de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez merece reconhecimento por popularizar o gênero e por ter usado jogadas de marketing incomuns para a época, que hoje caracterizaríamos como virais. Foram difundidas, majoritariamente pela internet, uma série de “evidências” de que o que estava em cartaz nos cinemas era realmente um registro feito por três estudantes desaparecidos e não uma obra de ficção. Trata-se de um filme que compreende que boa parte do charme do found footage está em convencer a audiência a acreditar (pelo menos parcialmente) na autenticidade do que lhe está sendo apresentado. O que nos traz a esta atrapalhada sequência lançada no ano seguinte, A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras. Embora seja claramente uma tentativa apressada de faturar com o sucesso do antecessor, o longa apresenta uma premissa bastante criativa e até metalinguística: situa-se no universo do espectador, no qual A Bruxa de Blair é apenas um filme. Assim como no mundo real, graças à equipe de marketing, há quem acredite que Heather, Michael e Joshua estão desaparecidos de fato. Em outro paralelo com a realidade, a continuação mostra o fenômeno do original sendo reportado em noticiários reais e pessoas se aproveitando do sucesso para ganhar dinheiro. É o caso de um dos personagens centrais, Jeff (Jeffrey Donovan), rapaz que vende tours pelas locações, além de camisetas, bonés e “autênticos” bonecos de graveto.

Uma ideia interessante, entretanto, não garante boa execução. Esta é uma das sequências mais odiadas do cinema e não são necessários muitos minutos de projeção para que se entenda o porquê. Se A Bruxa de Blair acertava na autenticidade – os atores estavam realmente acampando e manuseando as câmeras, sendo apenas vagamente direcionados – A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras parece extremamente artificial em todos os aspectos, particularmente nas atuações. O enredo acompanha um grupo que, liderado por Jeff, decide visitar a floresta onde os estudantes teriam desaparecido. Entre eles estão Kim (Kim Director), uma moça gótica e vidente; Erica (Erica Leerhsen), praticante da religião Wicca, que sente uma conexão com a bruxa titular; e o casal Tristen (Tristin Skyler) e Stephen (Stephen Barker Turner), dois pesquisadores que escrevem um livro sobre casos de histeria coletiva. Conforme as horas avançam, acontecimentos cada vez mais estranhos passam a desconcertar os personagens que frequentemente viram-se uns contra os outros.

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Apesar de não ser apresentado como found footage, o filme faz algumas brincadeiras com o gênero: Jeff sempre carrega filmadoras e sua casa é repleta de câmeras de segurança. São artifícios que se mostram úteis para o desenvolvimento do enredo uma série de vezes, contudo, denotando certa preguiça do roteiro. A reviravolta final se dá por meio das gravações que os personagens convenientemente fizeram e, em outro momento, a trama só progride quando uma fita de vídeo é tocada ao contrário, algo que inexplicavelmente revela novas imagens. As habilidades psíquicas de Kim também parecem ter sido inseridas na história apenas para que servissem de solução fácil a algum conflito da narrativa, uma espécie de visão ex machina.

Embora o diretor tenha acusado o estúdio de fazer mudanças que prejudicaram o produto final, como a montagem tenebrosa que entrecorta imagens sugerindo sexo e violência em quase todas as cenas e a alteração da música de abertura (Frank Sinatra originalmente, substituída por Marilyn Manson), é difícil dizer se mais controle nas mãos de Berlinger garantiria um resultado melhor. Ignorando as interferências do estúdio, o roteiro ainda é confuso e cheio de furos, as atuações são todas péssimas e o tom é excessivamente adolescente, algo próximo das produções feitas para a MTV nos anos 2000. Como se não bastasse, o tal Livro das Sombras não é sequer mencionado em toda a projeção e nenhuma explicação a respeito do título é oferecida ou ao menos sugerida.

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Ainda que mereça alguns pontos por, ao menos, tentar se diferenciar do antecessor, com uma premissa que apresentava potencial, o saldo final é negativo. O final ambíguo pode até levantar discussões interessantes – não fica claro se estamos diante de um delírio coletivo ou de algo realmente sobrenatural –, mas não compensa os problemas de roteiro, montagem, direção e performances.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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