Crítica
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Sinopse
Crítica
É violento o movimento que tira James (Kyle Mooney) do ambiente onde ele permaneceu em boa parte dos 25 anos de vida. No princípio de Brigsby Bear há um estranhamento patente, com o jovem adulto dormindo num quarto adornado de brinquedos e outros produtos relacionados a um programa de televisão com quase mil episódios. Apenas a descoberta do sequestro e da manutenção do protagonista em cativeiro todo esse tempo, praticamente desde o seu nascimento, desfaz a suspeita de estarmos no âmbito da ficção científica. Com a chegada da polícia o crime é deflagrado e o rapaz devolvido para a família que nunca cansou de procura-lo. Há a exposição da etapa da adaptação, com direito a jantares constrangedores pela falta de intimidade e tentativas forçosas de interações domésticas e/ou sociais. O cineasta Dave MacCary propõe uma abordagem bastante original para tratar desse tema relativamente recorrente nas telonas. Ajuda, e muito, o carisma e o talento de Kyle Mooney, cômico e ator.
O protagonista é praticamente obcecado por um programa de televisão estranho, com o qual ele sempre teve contato por meio de fitas de videocassete. No show, um urso falante luta contra um tirano galáctico em formato de sol ameaçador. Brigsby Bear apresenta alguns processos imprescindíveis ao desenrolar da trama em meio ao período de adaptação de James à casa nova. A ida ao cinema com o novo pai, a fascinação por esse espetáculo coletivo, o faz colocar na cabeça ser necessária a realização de um filme que oferecesse fim às aventuras do urso. É preciso recorrer a boas doses de suspensão da descrença para aceitar, sem que os questionamentos comprometam a fruição, o imediato envolvimento do até então estranho com os amigos da irmã mais nova, o respaldo de um policial que simpatiza com o sujeito simpático e ingênuo, e por aí vai. Mesmo com todos esses senões, o longa-metragem possui um charme cativante, além do enfrentamento inusitado de uma questão realmente grave.
Brigsby Bear ganha o espectador pela maneira como observa James, escrutinando sua sensibilidade e singularidade, moldadas ao longo dos anos pelos captores. Não se aposta tanto na seara das descobertas. Isso quer dizer que são relativamente poucos os momentos em que James observa estupefato algo novo. As sessões de terapia com a profissional interpretada por Claire Danes são sequências frágeis, se pareadas com a realidade, e que possuem pouca representatividade dentro da trama. É um longa-metragem essencialmente centralizado, pois é através de James que tudo de relevante acontece. Ao contrário do protagonista, os coadjuvantes são meramente decorativos, mas funcionam satisfatoriamente como auxiliares, desempenhando o papel de substanciar a jornada principal, a da realização de um filme como forma de superar traumas e virar a página. O caráter levemente excêntrico fica por conta do urso cheio de frases de efeito.
Brigsby Bear vale pela maneira terna com que o roteiro alinhava as pessoas para formar um painel curioso de algo hediondo como o rapto de recém-nascidos. É na fantasia, auxiliar inequívoco de sua criação, que James busca o ponto de virada, a permissão necessária para seguir adiante e construir uma nova vida a partir dos cacos restantes da mentira estilhaçada. Dave MacCary oferece constantemente soluções fáceis para problemas difíceis, do que decorre a incapacidade de mergulhos mais profundos nas questões intrínsecas ao elemento motivador. Mesmo carecendo de densidade – algo completamente adequado à proposta evidentemente mais leve e descompromissada – o filme possui personalidade e um tom de comédia agridoce bem agradável. É relativamente fácil antever o resultado dessa inusitada jornada que começa num bunker, mas, nem assim, perde-se o interesse ao longo da viagem.
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