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Sinopse

A cinco meses da eleição presidencial brasileira, o país está mergulhado em uma crise política e econômica. Nesta atmosfera de tensão social, caminhoneiros decidem fazer uma paralisação em busca de melhores condições de trabalho. Em meio às reivindicações da classe de trabalhadores, surgem cada vez mais vozes pedindo uma intervenção militar.

Crítica

Os cineastas Quentin Delaroche e Victoria Álvares, atendendo à urgência e à importância (dentro do contexto sócio-político brasileiro) das famigeradas paralisações dos caminhoneiros em maio de 2018, resolveram pegar equipamentos e penetrar na movimentação de um dos bloqueios repletos de descontentes em Seropédica, no Rio de Janeiro. Portanto, o que sobressai em Bloqueio é a vibração retida sem tanto tempo de preparação, mediada pelos imediatismos do ambiente registrado. Em diversos instantes a câmera é percebida como um instrumento confessional a homens e mulheres que permanecem lotados nos acostamentos, reivindicando, principalmente, a queda do preço dos combustíveis e a redução dos impostos cobrados dos transportadores rodoviários. Até por ceder largo espaço às colocações que frequentemente soam como uma sucessão de platitudes, os realizadores rapidamente entendem, e utilizam como substrato narrativo, essa confusão dos discursos influenciados por personagens obscuros, de origem e intenções nebulosas e até perniciosas.

Bloqueio oscila bastante entre a pontuação e a análise de determinadas potencialidades, como as contradições dos clamantes por intervenção militar, mas que adiante sofrem na pele o autoritarismo dos milicos sujeitos às ordens do Estado. Não há, de fato, um pleito organizado, pelo contrário, pois aparentemente essa perpetuação de mensagens ruidosas e passíveis de entendimentos ambíguos atende a desígnios apenas aventados pelo longa-metragem. Inexiste a vontade manifestada de oferecer respostas e conduzir demasiadamente o olhar do espectador, mesmo evidentes alguns posicionamentos da dupla que decide para onde o mecanismo de filmagem deve apontar. Quentin e Victoria chegam a indagar um caminhoneiro, logo após ele se desentender com um militar que faz pouco de suas reclamações, acerca da defesa da intervenção. A falta de consistência da resposta é um indício da tomada de posição sem bases ideológicas sólidas. Isso reaparece constantemente.

Essa verborragia descontrolada dos sujeitos de braços cruzados também é exposta na sequência da conversa beirando a rispidez com filiados ao PSOL. Enfileirando lugares-comuns, tais como “político nenhum presta”, “do jeito que está não dá para ficar”, “o exército tem de tomar o controle, moralizar o país e devolver o poder ao povo”, eles tentam desarticular as falas da professora que deseja entender as pautas, bem como suas origens e possíveis distorções. O diálogo sem rusgas é facultado àqueles que concordam inteiramente com o torvelinho de sentenças, obviamente, não formadoras de uma estrutura consciente de pensamento. Quentin Delaroche e Victoria Álvares fazem questão de repetir as participações de líderes religiosos, com palavras de conforto e demonstrações veladas de uma autoridade supostamente avalizada por Deus. Tendo em vista a mencionada posterior eleição presidencial de Jair Bolsonaro, extremista que se escuda com a fé, tais partes são sintomas.

A turbulência generalizada pela paralisação é entendida de dentro para fora. A ojeriza da imprensa tradicional é delineada menos como indignação diante da capacidade de manipulação da informação, mais na condição de estratagema difundido sordidamente para imbuir de poder os meios de informação alternativos e, portanto, facilmente corruptíveis. O documentário não oferece de bandeja tais apontamentos, provavelmente ressoando com potência maior no espectador que possui ciências dos contextos apenas tangenciados pela mirada, ainda assim, curiosa de Quentin Delaroche e Victoria Álvares. Retrato ora intenso, ora repetitivo de um episódio essencial à compreensão do processo de desmonte que sobreveio ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Bloqueio infelizmente nem sempre se aferra aos pontos nevrálgicos, os iluminando insuficientemente, mas levanta questões e, munido de imediatismo, esquadrinha circunstâncias vitais.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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