Crítica


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Sinopse

Bill e Ted ainda não conseguiram escrever a melhor música de todos os tempos. Eles decidem ir ao futuro e roubar a canção de si mesmos. Nessa toada, os dois vão ser convocados a salvar o mundo do caos.

Crítica

Bill (Alex Winter) e Ted (Keanu Reeves) estão de volta, ainda tentando criar a música que vai unir o mundo. Seguindo um caminho comum, sobretudo em recentes tentativas de acordar franquias adormecidas, Bill & Ted: Encare a Música ensaia uma troca de bastão, aponta à necessidade da nova geração coprotagonizar. Assim como em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), no qual se tentou tirar a temperatura do público inserindo o filho de Indiana Jones – algo que não se provou lá muito bem-sucedido –, no terceiro longa estrelado pelos personagens aparentemente vivendo uma eterna adolescência o público é apresentado às suas herdeiras. Thea (Samara Weaving) e Billie (Brigette Lundy-Paine) são cópias carbono, inclusive mimetizando os trejeitos dos pais-ídolos. Tão logo todos fiquem sabendo que a tal canção suprema serve não somente como elo simbólico, mas para literalmente salvar a realidade como a conhecemos, as meninas embarcam numa excursão paralela. Em tese, são jornadas complementares, ligando futuro e passado.

Bill & Ted: Encare a Música não se lança num trajeto desgastado pelo excesso de uso apenas no que diz respeito a como tenta dar sobrevida à saga. Além do desafio enorme de assaltar a si mesmos do futuro, por pura falta de inspiração para compor aquilo que supostamente garantirá a existência de tudo, Bill e Ted se deparam com a crise matrimonial que escapa à missão. Portanto, à medida que os protagonistas precisam, de algum modo, entender certos protocolos da vida adulta, suas filhas aparecem como capazes de empreender uma aventura radical. Porém, nem essas convenções acabam sustentando a tônica do filme. Thea e Billie, por certo, têm importância enorme à trama, retrocedendo no tempo e reunindo grandes nomes da música para formar uma banda imbatível, isso enquanto os pais viajam na direção oposta para encontrar as respostas que precisam. Mas, as duas não têm espaço para brilhar sozinhas, são sombras das figuras de Alex Winter e Keanu Reeves. O tiro sai pela culatra exatamente porque elas são meras miniaturas sem qualquer personalidade.

Já a questão matrimonial é ainda menos consistente. As insatisfeitas princesas Elizabeth (Erinn Hayes) e Joana (Jayma Mays) logo deixam insatisfações de lado e entram na correria entre as dobras das cronologias, nem tendo terreno para tornar minimamente relevantes as dificuldades de seus respectivos casamentos. Quanto à tarefa a ser cumprida para as coisas continuarem do jeito que sempre foram, ambas ficam limitadas aos passeios decorativos na companhia de suas versões alternativas vistas de longe. Bill & Ted: Encare a Música é um filme cheio de circunstâncias repetidas com figuras diferentes, mas cujas funções são basicamente as mesmas. Bill e Ted transitam por décadas diferentes, conversam com consequências de si, numa atividade que nem serve ao aprendizado relativo à inevitabilidade das mudanças, embora a essência deva permanecer. Nessas conjunturas potencialmente divertidas, o diretor Dean Parisot perde a possibilidade de reforçar a noção de jornada à qual está pretendendo aludir com as frequentes viagens semelhantes em tom e função. Bill e Ted marombados, falidos, velhos e embusteiros aparecem como simplórias peculiaridades.

Bill & Ted: Encare a Música não consegue emplacar as suas principais investidas. Justamente por serem reproduções de Bill e Ted, Thea e Billie se restringem a repetir o que seus pais evidentemente fariam. Nada mais que isso. Se fossem simplesmente versões jovens dos quarentões, não faria diferença. Isto, inclusive, porque a dinâmica entre pais e filhos, que ameaça ganhar certa notoriedade – por aparecer como questão a outros personagens –, igualmente esmorece por falta de atenção, se perdendo em meio ao andamento burocrático da trama. O robô inseguro vivido por Beck Bennett é uma piada que definitivamente não dá liga, embora o diretor insista nela como alívio cômico ao passo em que o esgotamento do tempo aproxima o cataclismo. O enredo ganha ares mais divertidos quando engata rumo ao final (ruim), sobretudo ao incorporar a impagável Morte (William Sadler) afeita a solos de baixo. Entretanto, o resultado fica bem aquém das expectativas geradas por algo que demorou quase 30 anos para acontecer. Bill e Ted não se tonaram obsoletos ou envelheceram mal. Simplesmente, lhes faltou uma história menos frouxa e que não desperdiçasse tanto.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
4
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
5

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