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Sinopse

Elliot precisa ir aos Estados Unidos para conhecer de perto a nova família. Antes do casamento de sua mãe com um sujeito para lá de excêntrico, ele viaja com seus futuros "irmãos" a uma típica festa de fraternidade universitária.

Crítica

Norte-americanos grosseiros e britânicos ingênuos. Todos com um coração enorme, apesar dos pesares e dos indícios de tolice. Esses são os principais pressupostos dos criadores de Balada Muito Louca. Se trata de um road movie chulo, cujo protagonista é Elliot (Richard Alan Reid), inglês que chega aos Estados Unidos para uma rápida temporada de reconhecimento da família à qual se juntará em breve. Isso, porque sua mãe está na iminência de casar-se com um sujeito que tem dois filhos mais ou menos de sua idade. Aos pais soa como boa a ideia da integração antes da cerimônia. Nessa temporada de averiguação, o destino é uma festança de fraternidade, daquelas comuns em filmes universitários estadunidenses, com loucuras regadas a álcool e drogas. Todavia, além do título brasileiro ser bem menos ambíguo que o original (frat pack seria algo como grupo fraterno), lança nossas atenções ao acontecimento xumbrega que não toma sequer um terço do longa. A celebração apenas existe para apontar levemente determinadas conjunturas e criar um conflito bem ordinário.

Na estrada há dois grupos. Num carro, os homens desfilando estupidezes, com direito à cena ridícula em que os viajantes se vomitam. Sério. Você já assistiu a um gato regurgitar em alguém como efeito de comicidade? Se não, esse é o momento (eca). Cada parada dos rapazes é uma bobagem maior que a outra, num interminável fluxo de impropérios destituídos de verniz crítico. Os jovens da terra do Tio Sam são efetivamente indelicados até o limite do suportável. Joey (Brendan Michael Coughlin) é o maior indício dessa imbecilidade celebrada como potencialmente engraçada. A ele é permitido ser machista, homofóbico, inconveniente, intransigente e ter mais uma série de falhas de conduta. No fim das contas, Balada Muito Louca defende a tese de que, a despeito de tudo, essas pessoas são bondosas e amáveis. Enquanto isso, Elliot surfa numa onda de clichês bobos referentes à nacionalidade. Parece que os roteiristas somente sabem associar os ingleses a chá e polidez.

Para não dizer que Balada Muito Louca é desprovido de boas ideias, a escalação de Kevin Farley permite uma piscadela esperta ao público. E essa reside no fato do personagem ser praticante de artes marciais. Ora, Kevin é irmão de Chris Farley, ator que antes de falecer precoce e subitamente estrelou uma bem-sucedida (especialmente em home vídeo) saga principiada com Ninja da Pesada '(1997). A semelhança física cria essa ponte. No mais, o deleite está à disposição restrita dos interessados em toscas piadas de peidos e menções a odores desagradáveis. Antes que se passe em branco, no outro carro, rumo ao mesmo destino, seguem as mulheres. O assunto entre elas se limita a quem transou com quem e à tensão entre as jovens descendentes de orientais e hispânicos. Em meio a isso, o surgimento de um casal de pombinhos aparentemente do tipo “feitos um para o outro”, o que torna bastante óbvio o clímax, sobretudo ao ser precedido por um óbvio desvão. Gordofobia mal disfarçada e ridicularização de transexuais também fazem parte desse cardápio intragável.

Há personagens simplesmente descartáveis em Balada Muito Louca, sendo um deles o irmão comportado entre os que pajeiam Elliot. Na famigerada festa, de atmosfera chupada de outras tantas vistas em situações parecidas no cinema, mas sem uma atmosfera efetiva que lhe dê veracidade, surgem mais impropérios dentro de uma conjuntura avessa a questionamentos. Joey, esse personagem que extrapola o senso do aceitável e do ridículo, se mostra disposto a fazer qualquer coisa para ser visto como lendário na fraternidade. Porém, essa fragilidade de sua personalidade é um dado que passa absolutamente batido. Mais importante ao cineasta Michael Philip, que até ali demonstrara incapacidade para, ao menos, gerar um riso momentâneo, é ressaltar a tentativa de alguém para convencer outrem a sodomizar um gato a fim de ganhar notoriedade. Não satisfeitos com essa bizarrice, e como um sintoma preciso do quão grosseiro é esse filme, um coadjuvante sonha em ganhar sexo oral enquanto defeca. Tudo isso está ali para, no mínimo, fazer troça desses absurdos? Não, seria pedir demais, a julgar pela incapacidade de compreender o potencial ofensivo das circunstâncias apalermadas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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