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Sinopse

Marcus é inspetor de polícia e Mike está passando por uma crise de meia idade. Eles se reúnem novamente quando um mercenário albanês, irmão de alguém do passado de ambos, lhes promete um bônus, no mínimo, interessante.

Crítica

A “química” entre os detetives Mike (Will Smith) e Marcus (Martin Lawrence) continua a mesma. Já sobre o objetivo de ambos, quanta diferença. A primeira cena de Bad Boys Para Sempre parece apontar a uma missão tensa da polícia de Miami, com perseguições à lá saga Velozes e Furiosos (quem influenciou quem?) a um Porsche que corta as ruas da cidade. Mas, a correria é para chegar à maternidade em que o neto de um dos bad boys está para nascer. Trata-se, portanto, de filtrar parcialmente esse universo repleto de aventuras pelo prisma familiar, com toques dos efeitos colaterais de envelhecer. Embora, no fim das contas, essa substância acabe bastante diluída numa trama beirando o genérico, sobremaneira interessada na soma de tiros, porradas, bombas e pontuais instantes de comicidade, ela se faz presente, condicionando algumas reviravoltas que podem soar como plot twist de novela mexicana, mas que acabam injetando outros elementos à saga.

Mike não aceita sua obsolescência. Faz parte do árduo caminho de cair em si quanto à passagem do tempo a compreensão, após muita teimosia, de que há formas distintas de combater o crime, bem como de aproveitar a vida. Entretanto, Bad Boys Para Sempre acaba dando um jeito de mostrar que, mesmo aprendendo a conviver com o novo, o veterano possui um quê diferente, algo que torna “aceitável”, dentro dessa coerência interna, seus consecutivos métodos nada ortodoxos que ignoram, por exemplo, os direitos civis dos criminosos. Claro que em se tratando de uma surperprodução de cunho escapista não dá para basear as expectativas numa leitura aprofundada dos efeitos da violência perpetrada, inclusive, pela força policial. Mas, certamente a essa “nova era”, contra a qual um dos protagonistas luta desesperadamente, é intrínseca a urgência da compreensão do que são procedimentos toleráveis. Aqui, os fins seguem como uma conveniente justificativa dos meios.

Marcus entende o instante de desacelerar e curtir coisas “normais”, como a recém-nascida geração de sua prole e a aguardada aposentadoria. São particularmente engraçadas as rimas visuais entre a rotina doméstica do então retirado da força policial e a continuidade do cotidiano acelerado do antigo parceiro que fica entre a vida e a morte após um atentado à bala. A dupla principal segue funcionando muito bem junta, com Lawrence confortável no papel de escada, tendo menos esforço físico e com uma pegada que encontra ecos no timming cômico de Smith. Faz sentido, dentro da lógica de passar a limpo as peripécias da parceria central e entender o seguimento dela, apesar das diferenças, que o passado conturbado de Mike seja responsável por oferecer a vilania. Os mexicanos em cena são estereotipados, figuras tão exóticas quanto perigosas. Isabel (Kate del Castillo) é visivelmente caricatural, mas sua presença funciona assim quando assumida tal intenção.

Bad Boys para Sempre também tem um bom time de calouros, por assim dizer. A vontade de renovar (mas não muito) é confirmada no clímax, com outra pitada à lá Velozes e Furiosos, o recrutamento inusitado de alguém que precisa pagar sua enorme dívida com a sociedade. A sequência que precede o encerramento é grandiloquente e, circunstancialmente, absurda para além do cabível – chega-se, ao ponto, de um helicóptero criar uma espécie de versão literal do inferno na qual, obviamente, não se deve cair. Também é objetável a atuação de Rita (Paola Nuñez), coadjuvante até ali consistente que, quase nos apagar das luzes, age forçosa e estranhamente motivada pelo ciúme tolo. Porém, excetuando-se esses senões, trata-se de um filme divertido, com uma toada nostálgica relativamente bem equilibrada, especialmente porque há uma leitura de cenários que permite os breves choques jocosos entre o passado e o futuro. Todavia, ademais, Smith e Lawrence seguem se ocupando da diversão e do entretenimento, com direito a boas risadas e alguns instantes bem inspirados.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Marcelo Müller
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Lucas Salgado
6
MÉDIA
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