Crítica

As Idades do Amor é aquele tipo de filme que parece impossível dar errado. E, realmente, se você for assisti-lo sem a menor expectativa, é até capaz de ficar satisfeito. Porém há muitos elementos jogando contra esta falta de interesse. Primeiro é o cartaz nacional, que traz estampado dois atores de prestígio internacional: Robert De Niro, dono de dois Oscars e estrela de filmes como O Poderoso Chefão 2 (1974), Touro Indomável (1980), Cabo do Medo (1991) e Entrando Numa Fria (2000), e Monica Bellucci, talvez a italiana que atualmente desfruta de maior reconhecimento no resto do mundo, principalmente após aparecer em sucessos de público e de crítica como Malèna (2000), Irreversível (2002), Matrix Reloaded (2003) e A Paixão de Cristo (2004). Depois, vem o fato de que se trata, de fato, do terceiro episódio de uma série campeã de bilheteria na Itália (o título original é Manuale d’Amore 3). E por fim a ousadia de querer retratar como o Amor acontece em diferentes fases da vida. Nada, no entanto, que no final resulte tão interessante quando se anunciava no princípio.

 

Assim como os dois longas anteriores, As Idades do Amor é uma reunião de três curtas-metragens. O primeiro, Juventude, tem como protagonista Roberto (Riccardo Scamarcio, de O Primeiro que Disse, 2010), um jovem que de cara anuncia: seus dois únicos interesses na vida são ser um advogado de sucesso e se casar com a bela Sara (Valeria Solarino, esposa do diretor Giovanni Veronesi). Com ela as coisas estão bem encaminhadas, mas quanto ao outro desejo ele tem uma dura missão pela frente: convencer um casal idoso a vender o terreno onde moram, numa pequena vila na Toscana, a uma construtora poderosa. O problema é que, quando chega lá, conhece a rebelde Micol (Laura Chiatti), que irá deixá-lo sem rumo e completamente apaixonado. Algo semelhante acontece na segunda história, Maturidade, em que Fabio (Carlo Verdone, presente nos três filmes da série), um reconhecido apresentador de televisão, se envolve com uma mulher desconhecida que se revela sofrer de transtorno bipolar e ameaça desmascará-lo para a esposa e filha.

O curioso destas duas primeiras tramas é que ambas versam mais sobre os problemas e dilemas da traição do que sobre o amor em si. O que leva os personagens e serem infiéis é muito mais um desejo passageiro, uma paixão de ocasião, do que um sentimento verdadeiro e profundo. Uma contradição, portanto, com o espírito proposto. O oposto do que vemos no último segmento, Além, que mostra um professor americano de História da Arte (De Niro) que, após a morte da esposa, decidiu ir morar em Roma. Sua vida pacata e sem grandes emoções sofre uma reviravolta quando conhece a filha mais jovem (Bellucci) do seu melhor amigo. Ela está com problemas, e o encontro dos dois poderá não somente ajudá-la, mas também oferecer um novo rumo ao viúvo. O envolvimento deles é um tanto frívolo e fugaz demais, mas a boa atuação dos protagonistas e o clima romântico geral acaba sendo um diferencial importante.

Além dos desvios do tema principal, outro ponto de conflito em As Idades do Amor é o fato dos intérpretes não possuírem faixas etárias tão definidas como se poderia imaginar. O primeiro casal, ao invés de serem adolescentes, já passaram há algum tempo dos 30. Por outro lado, os protagonistas masculinos da segunda e da terceira trama possuem apenas 7 anos de diferença! Sem falar em suas contrapartes femininas, que obviamente são da mesma geração. Mas tudo isso seria perdoável caso o que fosse apresentado tivesse alguma originalidade ou frescor – o que, evidentemente, não acontece. É tudo muito bonito, agradável, atraente, mas igualmente morno, repetitivo e simples. Há algumas boas piadas, momentos engraçados e até uma simpatia pelo conjunto, mas no fim é apenas mais um que promete muito e entrega pouco.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *