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Sinopse

Termina o ano letivo. Nicolau, seus pais e a avó viajam para o litoral com o objetivo de aproveitar ao máximo o verão. Na praia o menino faz novos amigos e conhece uma garota, Isabelle, que ele acredita ser sua futura esposa.

Crítica

Nicolau (Mathéo Boisselier) está de férias. Até que os pais decidam entre praia e montanha como destino, ele jura amor eterno à pequena Marie-Edwige (Chann Aglat), com quem sonha casar-se na igreja. Rumando, por fim, ao litoral, a família do menino – junte aí a avó materna Mémé (Dominique Lavanant), típica “sogra cascavel” – faz como muitos franceses que deixam Paris aos turistas. As Férias do Pequeno Nicolau é a sequência de O Pequeno Nicolau (2009), primeira adaptação ao cinema da história em quadrinhos escrita por René Goscinny e ilustrada por Jean-Jacques Sempé. O garoto protagonista continua levando quase tudo ao pé da letra. Se antes encasquetou com a ideia de ser largado na floresta em detrimento do suposto irmãozinho que estaria chegando, agora ele se desespera quando vê ameaçado seu plano de casar com a menina dos cabelos cacheados.

Como no primeiro filme, há uma fórmula bem definida na construção e na dinâmica dos personagens. Nicolau faz uma série de amizades na praia, e cada menino tem uma característica marcante, do que chora por qualquer coisa àquele que come qualquer coisa. Contudo, diferentemente de antes, em que os coadjuvantes eram responsáveis por boa parte da graça, aqui essa nova turma é subaproveitada, como que inserida na história apenas por uma questão de fidelidade ao material original, ao cânone. Por vezes, inclusive, a sensação é de não estarmos vendo um filme protagonizado por Nicolau, mas por seu pai (Kad Merad). Desde o começo, quando tem de engolir a presença da sogra para fazer valer sua vontade de ir à praia, ele se torna o verdadeiro centro das principais atenções.

As Férias do Pequeno Nicolau segue o visual colorido de seu antecessor, tem a mesma vontade de emular a linguagem cartunesca das páginas, mas perde algo naquilo que é essencial. Os arquétipos não são aproveitados como poderiam em seu potencial cômico, e mesmo que a trama siga agradável de ver, dificilmente soando cansativa, é de lamentar a constante diluição de bons momentos que vai subtraindo pouco a pouco do longa a possibilidade de seguir o bom caminho aberto por O Pequeno Nicolau. As coisas só engrenam de novo quando Nicolau percebe a menina de olhos esbugalhados que põe em risco seu “casamento” como uma pretendente interessante. Ou seja, o filme só volta aos eixos quando as crianças retornam ao centro, aliás, de onde não deveriam ter saído.

O diretor Laurent Tirard sabe o que faz, sobretudo no plano visual. As cores saturadas, do cenário, dos objetos, das roupas, soam apropriadas às figuras e às situações que se apresentam. O maior problema está mesmo no roteiro, nessa opção estranha de diminuir o protagonismo infantil em favor do enredo adulto. Há um quê de As Férias do Sr. Hulot (1953), afinal o filme de Jacques Tati é referência praticamente incontornável quando misturados praia, comédia e franceses de férias. Contudo, focado mais nos parentes de seu virtual protagonista que nele próprio, As Férias do Pequeno Nicolau se torna um filme mediano sobre a crise matrimonial do pai de Nicolau, e não propriamente a respeito dos anseios precoces do menino que leva tudo a sério, que dá asas à sua imaginação com base no que os adultos falam muitas vezes da boca para fora.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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