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Sinopse

Um ano após a sua última aventura, os irmãos Pevensie regressam à terra mágica de Nárnia e descobrem que 1300 anos se passaram. Nárnia está em guerra novamente e os irmãos unem forças com o Príncipe Caspian para derrotar o maldoso Rei Miraz e restaurar a paz.

Crítica

Desde o impressionante sucesso de crítica e – principalmente – de público de O Senhor dos Anéis, Hollywood anda desesperada por novos exemplares do gênero, como se o universo fantástico fosse uma mina de ouro. O problema é que para cada Harry Potter há vários Eragon (2006), A Bússola de Ouro (2007) ou Stardust (2007), que de um modo ou de outro terminaram frustrando as expectativas. Um dos poucos, no entanto, que atenderam ao esperado neste sentido foi As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005), que além de ter ganho um Oscar (Melhor Maquiagem) faturou mais de US$ 700 milhões nas bilheterias de todo o mundo! Com um retorno desses, até se estranhou a demora de 3 anos para o lançamento de As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian, o segundo episódio da série inspirada nos sete livros escritos pelo autor inglês C.S.Lewis.

Foram três anos no mundo real, um ano para os irmãos Pevensie e 1.300 anos na dimensão paralela onde se encontra o reino de Nárnia. 365 dias após terem retornado à Londres pós-Segunda Guerra Mundial, os quatro irmãos estão entediados com o mundo ‘normal’ e anseiam por retornarem àquela realidade mágica. Lá, no entanto, eles não passam de uma lenda, por muitos já esquecida. Afinal, faz mais de um milênio que não se ouve falar deles. E é quando o futuro rei dos Homens é deposto por um tio bárbaro, que anseia pelo trono para o próprio filho recém nascido. Deposto, o Príncipe Caspian irá contar com a ajuda dos seres da Floresta, os habitantes de Nárnia, que até então acreditava-se estarem extintos. E com eles virão também os quatro antigos Reis – que nada mais são do que os Pevensie, que prontamente atendem ao chamado para lá se fazerem presentes.

Ou seja, se você viu o primeiro filme, já percebeu que a trama deste segundo é extremamente similar ao do anterior. Os quatro jovens chegam à Nárnia por acaso, e logo são jogados no meio de uma batalha pelo poder local. Com a liderança, sabedoria, força e persistência deles, os oprimidos irão se unir, para assim vencer o mal e permitir um novo período de paz e prosperidade de todos. Será que eles não se cansam de a toda hora serem chamados para salvar um mundo que nem mesmo lhes pertence?

Outro ponto fraco de Príncipe Caspian está no próprio personagem-título: será que não havia nenhum outro jovem ator menos apático disponível? Ben Barnes, que dá vida ao herói, é de uma falta de expressão gritante, e choca pela inexperiência e inabilidade em estimular empatia no público. Ele é o oposto dos quatro atores que interpretam os irmãos Pevensie – todos verdadeiros achados, já que são igualmente novatos. Ao vê-los a impressão que temos é que realmente o tempo entre um filme e outro foi menor, pois estão muito à vontade. Mas a mão pesada do diretor Andrew Adamson (o mesmo do filme anterior) pouco colabora, e é quase impossível o resultado final não ficar aquém daquele obtido três anos atrás.

O melhor de O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa já estava explícito no título: o Leão, um feito digital que ainda vinha acompanhado pela voz impactante de Liam Neeson, e a Feiticeira Branca, a grande vilã interpretada pela vencedora do Oscar Tilda Swinton. Pois estes dois pouco aparecem em Príncipe Caspian, o que é suficiente para entender a maioria dos problemas aqui verificados. A Feiticeira tem um único momento, muito rápido, e mesmo assim consegue proporcionar um dos poucos instantes de verdadeira tensão. Já Aslam, o leão, aparece de forma previsível, somente no término da trama, colaborando decisivamente no final feliz. Não se explica a ausência dele, nem o porquê das diferenças temporais entre os dois universos. Aliás, o que mais há são questões, e escassas respostas.

As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian teve um orçamento de aproximadamente US$ 200 milhões, e estreou nos Estados Unidos em primeiro lugar nas bilheterias, arrecadando cerca de um quarto deste valor. Mesmo assim, entretanto, a arrecadação caiu mais de 50% na semana seguinte, quando Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008) entrou em cartaz atropelando a concorrência. Mas como a produção do terceiro filme (A Viagem do Pelegrino da Alvorada, lançado em 2010) já estava em andamento, ao menos mais um filme da série estava garantido. Espera-se, de qualquer forma, que este passo em falso tenha servido de alerta, mostrando que não bastam bichinhos falantes, efeitos especiais grandiosos e atores bonitinhos no cartaz: o que segura o público, por mais incrível que possa parecer, ainda é uma boa história. E em Príncipe Caspian esta é a ausência mais sentida.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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