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Sinopse

Até hoje a missão Apollo 11 é uma grande referência no que tange aos momentos históricos. Durante décadas, trechos impressionantes dos bastidores permaneceram guardados e apenas recentemente foram liberados. Este filme conta com cerca de 50% de imagens nunca antes vistas pelo público em geral.

Crítica

Apollo 11 oferece uma impressionante perspectiva factual da missão espacial mais famosa de todas. Realizada entre os dias 16 e 24 de julho de 1969, esta deu conta do inaugural voo tripulado à Lua. Como diria adiante o astronauta Louis Armstrong, o primeiro a pisar no solo lunar, se tratava de “um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”. E o documentário de Todd Douglas Miller não esconde, pelo contrário, pois celebra, o caráter vanguardista dessa verdadeira jornada feita de muitas fases e possível apenas em virtude da participação de uma equipe gigantesca e multidisciplinar. O filme combina imagens bastante conhecidas, tais como as amplamente divulgadas pelos governos dos Estados Unidos ao longo das décadas seguintes, e registros completamente inéditos, restaurados a tal ponto de limpidez que dão a impressão de serem atuais. Especialmente na primeira metade sobressai o delineamento dessa ambição com várias faces.

E a habilidade da construção narrativa de Apollo 11 reside na costura de relances que parecem banais, como a expectativa dos presentes nas cercanias da plataforma de lançamento, e as circunstâncias que antecederam a projeção do foguete Saturn V. O realizador estabelece uma miríade de vozes técnicas como dispositivo de narração. O discurso verbal é orientado pelas falas dos homens que se revezaram nas bases, principalmente na de Houston, o que denota um contorno oficial. Entremeadas com os vislumbres dos controladores checando procedimentos, zelando pelo sucesso da missão, surgem os do público ávido, os do comércio montado nas proximidades para abastecer os curiosos e lucrar com a ocasião histórica. Todavia, as imagens mais acachapantes desse pré-impulso são as da maquinaria, os ângulos privilegiados pelo acesso oficial. Chega-se ao ponto de testemunharmos a fuselagem do equipamento resistindo bravamente à flamejante e intensa ignição.

Uma vez que a Apollo 11 está em curso, Todd Douglas Miller lida com as fases subsequentes acentuando a ideia da compartimentação, de certa forma fazendo alusão à própria estrutura do veículo que vai se encaixando e se desencaixando ao sabor das necessidades. Por mais que o desfecho bem-sucedido seja largamente conhecido, o cineasta é muito perspicaz ao fomentar uma tensão intermitente em Terra, sobretudo nos instantes de transição, como nas mudanças de curso ou na orientação pela órbita lunar. Há um tom claramente ufanista nessa observação pormenorizada do fato historicamente relevante, algo sublinhado escancaradamente na cena final, o discurso do então presidente John F. Kennedy, exatamente, acerca da coragem necessária para que especificamente os norte-americanos desbravassem mais esse território “virgem”, a priori em nome de toda a humanidade. Em ponto nenhum o esforço é percebido, também, como parte das estratégicas geopolíticas.

Todavia, ressalvas feitas à limitação quanto ao fundo ideológico, Apollo 11 tem a capacidade de conferir novas molduras a tal ocasião histórica a partir de um resgate imagético precioso. Em determinados instantes o filme se aproxima deliberadamente de lógicas comuns ao âmbito ficcional. Isso se dá pela interlocução sintomática entre os módulos do conjunto, numa engenharia que acena tanto ao suspense quanto à ficção científica. Afora a trinca de cosmonautas, os personagens são identificados pontualmente, até porque, obviamente, a intenção manifestada é criar núcleos centrais, como, por exemplo, o dos controladores da missão, e não deter-se na atuação específica/individual de cada um deles. Porém, o mais consistente no longa-metragem, além da beleza e do caráter insólito das imagens, é a noção de trabalho em equipe, das heterogêneas habilidades combinadas para atingir feitos extraordinários, tais como entender a lógica do espaço em prol do conhecimento humano.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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