Crítica

Baseado na peça dramatúrgica de Christopher Durang - que também auxiliou o diretor Robert Altman a escrever o roteiro - Além da Terapia mistura comédia com situações graves. Prudence (Julie Hagerty) é uma mulher atraente que, cansada de estar sozinha, decide por colocar anúncio num jornal à procura de um amor. O homem que vai em sua direção é Bruce, interpretado por um jovem Jeff Goldblum, ele que, por sua vez, reproduz em pequenos atos e trejeitos a loucura típica da cidade grande, exibindo nas interações do cotidiano uma sensação de estranhamento e de charme peculiar, deixando claro para o espectador mais atento que se trata de um sujeito cuja sanidade mental é bastante discutível.

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O primeiro encontro da dupla é em um restaurante chique onde até os garçons e demais clientes parecem pessoas desequilibradas mentalmente. Tal comportamento é o mesmo em outras locações do longa. A história se passa entre os encontros que deveriam ser românticos – mas quase sempre resultam em brigas sem sentido – e as consultas em clínicas psiquiátricas. Mais tarde se descobre que os psicoterapeutas são casados, o que torna ainda mais curioso o enlace entre os desajustados e a insistência de ambos em um namoro sem química ou perspectivas de sucesso.

De modo jocoso, Altman elucubra sobre os problemas comuns e inevitáveis das relações românticas, ainda que use exemplos caricatos e extremos. O tom da comédia mescla elementos do nonsense com outros mais ligados ao pastelão. Apesar de seu diretor ser muito elogiado pela crítica de cinema mundial, Além da Terapia sofre com o ritmo escolhido para sua história, além de se perder em alguns momentos dentro da proposta de fazer troça com doenças mentais preocupantes.

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A camada de inteligência e ironia acaba por se perder em meio à morosidade do ritmo dramatúrgico, mas até o final é mostrada uma realidade beligerante e nada amena, em um 1983 distante ainda do século XXI, já alertando para os casos de depressão que assolariam o ser urbano moderno. Tudo é acompanhando por uma câmera que, mesmo em estado de enorme preguiça por parte de seu manejador, ainda registra um experimento curioso na carreira de um sujeito de feitos praticamente incontestáveis.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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