Albergue Espanhol
Crítica
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Sinopse
Xavier (Romain Duris) tem 25 anos e está terminando o curso de Economia. Um amigo de seu pai lhe oferece um emprego no Ministério da Fazenda, mas, para assumir o posto, o rapaz precisa saber a língua espanhola. Ele decide acabar seus estudos em Barcelona, para aprender a língua. Para isso, vai ter que deixar Martine (Audrey Tatou), sua namorada há quatro anos. Ao chegar em Barcelona, Xavier procura um apartamento no centro da cidade e acha um com mais sete estudantes, todos estrangeiros. Com eles, Xavier vai descobrir a autonomia e a sexualidade e iniciar a vida adulta.
Crítica
A produção franco-espanhola Albergue Espanhol é um mosaico sócio-cultural que muito bem reflete a diversidade de costumes e opiniões que tem dominado o continente europeu desde a virada do século. Tendo como base a cidade catalã de Barcelona, num apartamento em que vão morar juntos representantes de várias nacionalidades europeias, o filme explora o que levou cada um destes jovens e irem até para estudar e, assim, aumentarem suas experiências visando o mercado de trabalho. No fundo, o indivíduo continua focado nos ganhos e no bem estar pessoal. Para tanto, almeja-se um sucesso profissional de efeito, porém sem esquecer que durante o processo deve-se passar por muitos sacrifícios e complicadas decisões precisam ser feitas, deixando para trás feridos e bem queridos. Mais ou menos o reflexo do que acontece com cada um dos personagens desta trama, em maior ou menor grau.
O protagonista é um rapaz francês (Romain Duris, quase um alter ego do diretor Cédric Klapisch, presente na maioria dos seus filmes) que vai para a Espanha com o intuito de se aprimorar em sua área, dando continuidade em seus estudos de economia. Apesar de morar na França, nitidamente um país essencialmente nacionalista, fica claro desde o início que ele só terá êxito se conhecer melhor como funciona o mercado vizinho. Após muito procurar por um lugar para ficar, acaba encontrando o tal “albergue” do título, uma referência literária que exime a obra de maiores obrigações de verossimilhança – afinal, não estamos tratando de um verdadeiro albergue, e sim de um apartamento que é dividido por vários amigos ocasionais. Temos lá a inglesa reprimida e seu irmão descerebrado, o italiano descuidado, o alemão certinho, o dinamarquês conquistador e a espanhola revolucionária. Depois do francês perdido, soma-se ao grupo a belga lésbica, e o quadro está pronto. Apesar dessa rápida – e talvez precipitada – descrição, um dos pontos fortes de Albergue Espanhol é que seus personagens, felizmente, estão além do estereótipo fácil. E se isto acontece por serem construídos a partir de diretrizes facilmente reconhecíveis, o realizador e seus atores foram suficientemente capazes de impregná-los de uma vivacidade rara de se ver em obras do gênero.
Além dos que moram juntos, ganham espaço na trama também aqueles que ficaram para trás, como a namorada grávida, o namorado enganado e a mãe hippie. Entre esses tipos tem destaque a presença iluminada de Audrey Tatou, muito pouco aproveitada como a garota que é abandonada na França após juras de amor eterno. Sua interpretação reforça, no entanto, suas capacidades dramáticas, através de momentos de muito brilho próprio. De qualquer modo, esses novos integrantes contribuem na trama com um significado muito especial, trazendo referência à bagagem histórica que sempre acaba ficando esquecida em movimentos de aglomeração de nações, como atualmente acontece com a Comunidade Europeia. Tem-se muito o que conquistar, mas há um alto preço a ser pago por isso.
Albergue Espanhol é um perfeito reflexo de um continente em busca de sua identidade. Sucesso de público e de crítica por onde foi exibido, esconde também interpretações mais profundas, que tocam direto nos anseios básicos tanto de comunidades inteiras quanto de um único cidadão comum. Essa vontade de mudar, que avançar, mas ao mesmo tempo de se agarrar as nossas origens, às raízes, são elementos que falam com uma força relevante durante seu discurso, nos mostrando mais uma vez que, mesmo isolados de referências e por mais perdidos que possamos nos sentir, nunca estamos verdadeiramente sozinhos.
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