
Acabe Com Eles
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Chris Andrews
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Bring Them Down
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2024
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Irlanda / Reino Unido / Bélgica
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Acabe Com Eles, Michael, o último filho de uma família de pastores, cuida do pai doente, Ray. Um conflito com o pastor rival Gary e seu filho Jack escala, desencadeando uma série de eventos devastadores que transformam permanentemente ambas famílias. Thriller.
Crítica
“Acabe com eles. Acabe com todos eles. E quero que você me traga a porr* da cabeça dele”, diz, aos gritos, o patriarca Ray. Sua ordem não é em vão. É fruto de um conjunto de frustrações, desrespeitos, invasões e violências. Em Acabe Com Eles, duas famílias dividem terras vizinhas, e se uma vez foram unidas, agora se encaram como inimigos mortais. É quase um Romeu & Julieta, porém dominado por uma masculinidade tóxica e asfixiante, sem espaço para romances ou devaneios amorosos. A esposa de um já foi apaixonada pelo filho do outro, e se no passado estiveram juntos, há muito não possuem mais nada em comum. A não ser um desejo esmaecido, tal fogo que se recusa a se apagar, e mantém uma ou outra brasa aquecida, mesmo que sem serventia. É esse elo fino, quase imperceptível, que sustenta uma realidade quase intolerável. Mas presente. Não de hoje, nem de ontem, talvez não mais viva amanhã. Algo que vem de gerações e atropela aqueles que porventura estiverem em seu caminho. Independente de qual lado da disputa estejam.
Michael, muitos anos atrás, perdeu o controle. O preço desse instante em que se deixou levar pela emoção pesa sobre ele até hoje, e a repercussão é tão vívida agora, quanto foi antes de qualquer coisa. A culpa é relativa, pode não ser dele, mas como convencê-lo do contrário? Christopher Abbott constrói um ser dolorido, profundamente recluso. É quase como o protagonista do posterior Lobisomem (2025), deixando a fantasia de lado. Alguém que sabe de onde veio, não tem vontade alguma de seguir pelo caminho no qual se encontra, mas também não identifica em si motivação suficiente para mudar seu destino. Parece condenado, pelo que fez, pelos que com ele permaneceram, sejam ao seu lado, seja longe de tudo isso. Mas observando, mesmo que à distância. Ele precisa, porém, apenas de um instante à solta para abraçar o imprevisto. E esse presente maldito não tardará a lhe alcançar.
Gary (Paul Ready, de Agente Stone, 2023) está disposto a compensar uma frustração caseira por meio de um destrato público. Não aguenta mais o desentendimento com a esposa, que está prestes a partir. Mais do que uma briga entre proprietários de fazendas adjacentes, o que está em jogo é um ego ferido e nunca cicatrizado. No passado, ela optou por Michael. O marido, portanto, é quase como um prêmio de consolação. E não há muito o que ele possa fazer, após ter concordado em assumir essa condição. Se em algum momento se iludiu de que seria capaz de mudar essa realidade, hoje sabe bem que foi tolo em se enganar. A verdade lhe alcançou, e o revide é contra o homem que representa esse amontoado de angústias e decepções. Se é covarde o bastante para se manter imóvel, será o filho que partirá para a ação. Barry Keoghan delimita o campo de atuação deste personagem com uma fina sensibilidade, transitando entre o ódio contido e a treinada dissimulação. O embate parece ser questão de dias, horas… talvez minutos.
Chris Andrews oferece ao espectador uma estreia de peso com Acabe com Eles. Responsável tanto pela direção, como pelo roteiro, por vezes se isola nesse pretenso domínio. Sabe o que quer, mas lhe falta um apuramento do como chegar lá. A manipulação que exerce por meio da montagem distrai, mas também engana. Sorte sua contar com dois intérpretes em pleno controle do que podem alcançar com estas feras que ambos têm em mãos. O filho que almeja vingar o pai, o herdeiro que não consegue se mostrar à altura do que carrega nas costas. São tipos perdidos, sofredores, dispostos a matar e a morrer. O peso não lhes é compartilhado, mas as semelhanças são óbvias. No cenário nada acolhedor dos campos perdidos no interior da Irlanda, onde nem mesmo o inglês soa como língua capaz de se fazer entender, mais vale o gesto do que qualquer intenção. Eles sabem disso. O arrependimento, se é que esse terá vez, fica para um outro momento. E à audiência resta esse mesmo gosto amargo, nem sempre o que se almeja, mas cuja entrega foi anunciada muito antes, e cuja entrega se dá conforme o prometido.


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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Chico Fireman | 5 |
Miguel Barbieri | 6 |
Alysson Oliveira | 7 |
MÉDIA | 6.3 |
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