A Viagem de Lúcia

Crítica


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Sinopse

Em A Viagem de Lúcia, Lea é jovem, trabalha em uma fábrica de alimentos, mas espera que algo aconteça para arrancá-la da rotina. Lucia já não é mais jovem, trabalha como comissária de bordo e tenta ter um filho com o marido, mas sofre de desmaios raros. Lucia é vista como tensa por seu psiquiatra, que pede para ela aproveitar mais a vida. Quando decide dar aulas de piano, Lea entra em sua vida. Romance.

Crítica

Duas mulheres completamente diferentes uma da outra acabam se encontrando em momentos singulares de suas vidas. Esse reconhecimento é breve e, ao mesmo tempo, profundo. Assim é A Viagem de Lucia, uma co-produção entre Argentina e Itáliatrans. Dirigido por Stefano Pasetto, o filme tem como maior mérito ser uma obra feminina feita para elas – muito dessa característica vem do fato de ser um roteiro escrito por uma escritora, Veronica Cascelli. Mas mesmo assim a comunicação não se dá por completo – a impressão é de que algo ficou faltando, em ambos os lados da tela.

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Como duas pessoas desconhecidas podem, em questão de poucos encontros, se tornarem indispensáveis mutuamente? Isso é o que acontece entre Lea (Francesca Inaudi) e Lucia (Sandra Ceccarelli). A primeira é jovem, libertária, descompromissada. Mantém um relacionamento sem muitos laços com um rapaz tatuador, explode de felicidade a cada contato esporádico do pai ausente e sonha em poder sair da fábrica onde trabalha para poder exercer sua profissão de verdade: bióloga. Já a segunda é mais velha, trabalha como aeromoça, séria e compenetrada, e deseja engravidar do marido – sonho que nunca se realiza devido a uma série de abortos espontâneos que sofre. Tensa e atenta a cada detalhe, após uma chamada telefônica – a do título original – decide retomar suas atividades como professora de piano.

Por instantes lembra a genial obra francesa estrelada por Isabelle Huppert (A Professora de Piano, 2001), mas essa rigidez aos poucos será desfeita a partir do convívio entre as duas, mestra e aluna. A relação que começa por acaso, em dois encontros semanais, aos poucos se transforma em algo mais sério e poderoso. O curioso é perceber que isso não acontece apenas por influência dos sentimentos que surgem, e sim devido à fatores externos. Enquanto que Lea recebe um convite para ir trabalhar na Patagônia, Lucia se desaponta cada vez mais com o marido e com a própria vida que tem levado.

Uma exalta felicidade por todos os lados, ao mesmo tempo em que a outra parece indecisa entre vida e morte, sem saber se quer ir adiante ou se prefere simplesmente desistir. É uma obra sensível, sobre o amor que pode surgir entre duas mulheres em situações bastante específicas. Seriam elas lésbicas? O caso é algo passageiro ou irá alterar suas trajetórias para sempre? Isso o filme não se preocupa em esclarecer, e poucos serão os realmente interessados nessa resposta.

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Exibido nos festivais de Toronto, Londres e São Paulo, A Viagem de Lucia chega aos cinemas brasileiros sem nenhum reconhecimento internacional de maior destaque. Importante indicativo de que este não é um filme qualquer, mas também não chega a ser inesquecível. Com ritmo lento e sem saber muito ao certo para onde ir, o que termina por se destacar diante os olhos dos espectadores são as duas protagonistas, atrizes que se entregam com muito empenho a algo que nem merecia tamanho esforço.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Alysson Oliveira
2
MÉDIA
1

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