Crítica

Em um lugar ermo, vivem dois idosos que dividem uma casa modesta, rodeada por natureza. O homem (Ramón del Rio) resignadamente toma conta de sua esposa (Vera Valdez), que está nos estágios finais de sua doença. Quando a mulher morre, a solidão dos dias que virão se mostrará insuportável para aquele velho senhor. Mesmo que a temática seja válida e o elenco segure a responsabilidade de viver aqueles sofridos personagens, faltou estofo para A Última Terra, um curta-metragem comprido de 77 minutos de duração.

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O diretor Pablo Lamar se convence de que planos longos são a melhor forma de contar essa história – e isso não seria problema algum, caso eles comunicassem algo com essa extensão de tempo. Temos alguns exemplos que funcionam, como a angustiante sequência inicial, na qual a senhora tenta se alimentar e buscar o ar de forma exasperante e que culmina com a passagem dela para outro plano. Depois de sua morte, no entanto, planos vazios de poços, caminhadas e cortes de lenha acabam apenas por atrasar o desenrolar da trama. Já entendemos desde o início que o local tem seu próprio tempo e essa lentidão é intrínseca a ele. Essa informação é tão repetida que se torna redundante.

Nem tudo é problema em A Última Terra. O desenho de som é impactante, com o espectador sentindo a magnitude da natureza que os cerca, o crepitar da fogueira, o correr do rio, os insetos e pássaros. Tudo é capturado com impressionante detalhe, o que conferiu ao longa o prêmio especial no festival de Rotterdam pelo trabalho sonoro. Alguns enquadramentos são belíssimos e as cenas iniciais capturam a atenção do espectador. A escolha da total ausência de diálogos é perfeita, dado o estado solitário do casal naquele local. Nada pior do que ver alguém falando sozinho apenas para preencher vazios. Ouvir a imaginação ou a presença de um narrador seria igualmente pernicioso para o filme.

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Uma pena que Pablo Lamar tenha transformado uma história que daria um curta-metragem sensacional em um longa enfadonho, que esvazia o drama dos personagens ao passo que tenta dar um ar mais “artístico” ao seu trabalho. Não bastam planos gigantes para chegar a este resultado. Eles precisam estar impregnados de significado, algo que não acontece em boa parte deste drama.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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