Crítica

Produção do coletivo Surto e Deslumbramento, A Seita apresenta uma Recife futurista do ano de 2040, quando a população global se mudou para colônias espaciais, deixando a Terra para trás. É quando um jovem decide retornar devido à nostalgia de reencontrar com o seu passado e infância pelas ruas da cidade. Uma espécie de dândi vivendo entre os livros e algumas aventuras sexuais, ele desbrava um Recife quase fantasma até descobrir uma seita que não segue as regras governamentais.

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Primeiro longa-metragem do jovem coletivo, a direção de André Antônio é de uma segurança que impressiona por seus belíssimos enquadramentos aliados a uma impecável fotografia de Breno César. Os planos repetitivos podem parecer enfadonhos de início, mas trazem um reflexo da vida monótona que o personagem leva naquele espaço de verdadeiro abandono e poucas atividades. Entre músicas e livros, o jovem rico e insône (devido a uma vacina dada a população para não dormir) explora olhares e encontros com outros garotos em busca de algo para passar os dias. Suas emoções praticamente não afloram, sendo um personagem blasé com uma pitada de amargura e ironia digna de uma drag queen que adora soltar um "shade".

Mais que o personagem diletante principal (em boa interpretação de Pedro Neves) e a glamourosa seita, Antônio nos guia por espaços e explora uma Recife decadente. Os prédios são tão personagens como as pessoas. Grandes elefantes brancos de concreto hoje vazios por Recife e que ganham aqui um destaque e contraste com o espaço em que vive nosso protagonista.

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Ligado em frases de efeito e diálogos comuns à comunidade gay, o roteiro e direção geral são elevados ainda mais com uma direção de arte impecável e, ainda, de uma trilha sonora que dá espaço até mesmo para uma canção do canadense Daniel Snaith, do projeto Caribou.  E, com escolhas espertas e econômicas, Antônio abraça um dos mais grandiosos feitos da produção: a falta de pudores. Dando espaço para a sexualidade gay acompanhada de uma estética que beira ao kistch. Se existe um orgulho do Surto e Deslumbramento, nome inspirado nos cearenses da Alumbramento, é de parecer uma "bicha bichérrima". Ainda bem.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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