Crítica


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Sinopse

Um grupo de agitados animais está em crise de identidade: a raposa pensa ser um frango, o coelho está certo de que é uma cegonha e o pato passa os dias sonhando em substituir o Papai Noel. O campo nunca esteve tão distante da paz e da tranquilidade que todos almejam quando vão tirar férias por lá.

Crítica

Dirigido por Patrick Imberte e Benjamin Renner, A Raposa Má é composto de três histórias independentes, protagonizadas pelos bichos que habitam uma fazenda no interior da França. Na verdade, eles são artistas de teatro encenando esquetes, com a tal Raposa do título servindo de apresentadora e figura central do segmento do meio. Produção claramente voltada a um público de menor idade, ela se ancora no carisma dos personagens, elemento incumbido de divertir e entreter. É visualmente bonita, com os cenários estáticos aquarelados emoldurando a movimentação da galera que, para começo de conversa, precisa cumprir uma missão insólita. O Porco, o Coelho e o Pato são enrolados pela Cegonha, levados a acreditar-se como últimas esperanças para uma bem-sucedida entrega de bebê. Ao contrário de seus amigos completamente sem noção, que iam lançar a pequena Pauline aos pais biológicos numa catapulta, o suíno se encarrega de tentar garantir que as coisas acabem como devem.

A Raposa Má tem um roteiro bastante esperto, no qual há sacadas que o tornam saboroso, inclusive, aos espectadores mais velhos, não restringindo a sua abrangência. Todavia, o tom reinante é, mesmo, o pueril, com as fichas apostadas no fascínio exercido pelos animais devidamente antropomorfizados, falantes, com atributos absolutamente humanos e, por isso, facilmente reconhecíveis. Na segunda parte, curiosamente, também a paternidade vira questão nuclear. A Raposa é instigada pelo Lobo a sequestrar pintinhos a fim de prover suas refeições. Como eles são muito pequenos (pouco suculentos), é preciso cria-los até ganharem peso. Os franguinhos acham que o algoz medroso é sua mãe. Embora seja nada difícil imaginar que a Raposa se afeiçoará pelos inocentes que deveria devorar, o fragmento tem um desfecho criativo, com a promoção da união entre rivais para satisfazer necessidades específicas dos lados antagônicos. A fábula é costurada com objetividade e transparência.

Já o terceiro e derradeiro capítulo traz de volta ao protagonismo o trio principal do primeiro bloco. O Pato e o Coelho creem ter assassinado o Papai Noel, colocando na cabeça que precisam fazer de tudo para salvar o Natal. Novamente supervisionados pelo Porco, enfrentam uma série de percalços para substituir o bom velhinho, exatamente na noite em que ele deve recompensar mundialmente as crianças de bom comportamento durante o ano. Mesmo completamente previsível, o clímax sobrevém a um percurso engenhoso, com direito à gangue de cachorros obedecendo ao líder feroz, por sua vez, disposto a tudo para assegurar a felicidade da filhotinha. A relação entre pais e filhos é, realmente, a única constante temática observável nos três episódios, com importâncias variáveis. Porém, de alguma forma, esse traço é sempre determinante para o encaminhamento de resoluções. No que tange à imagem, o traço leve, bem como as cores utilizadas, sublinha a prevalência da pegada essencialmente infantil.

Patrick Imberte e Benjamin Renner conduzem as histórias com habilidade, focando-se na reafirmação das características básicas dos personagens, se reportando prioritariamente à fatia dos espectadores para a qual sua realização abertamente se destina. A apresentação da Raposa serve de mero interlúdio, instrumental que não estabelece novas camadas nessa estrutura basicamente tripartida. O fato dos bichos representarem quadros teatrais funciona como simples desculpa para permitir breves respiros entre as aventuras. Todavia, os realizadores aproveitam tais momentos para brincar com a ideia da encenação, como quando o pintinho educado é tirado às pressas do palco assim que o Lobo se oferece para “cuidar” dele. A Raposa Má é um filme obviamente realizado visando uma faixa etária abaixo dos dez anos, mas tem qualidades que o credenciam a outros públicos, ainda que, por exemplo, não ofereça dados apenas acessíveis aos adultos. Longa despojado, tem tudo para cumprir bem a função de agradar a molecada.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
7
Chico Fireman
7
MÉDIA
7

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