A Queda

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Direção:
Título original:
Gênero: Drama
Ano:
País de origem: Reino Unido / EUA

Crítica

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Sinopse

Becky e Hunter são melhores amigas que frequentemente estão tentando vencer seus medos e ultrapassar limites. No entanto, elas se veem numa enrascada potencialmente mortal ao escalar uma torre de TV remota e abandonada.

Crítica

Filmes sobre/com esportes radicais tendem a destacar a superação de limites físicos e/ou mentais, especialmente quando alguma adversidade coloca em grave risco a integridade dos praticantes. Não é o que acontece, exatamente, em A Queda. O longa-metragem encara uma situação limítrofe como desculpa para apresentar acertos de contas rasos e concluir que a protagonista deveria ouvir mais seu pai. Becky (Grace Caroline Currey) está escalando uma montanha na companhia do marido/namorado Dan (Mason Gooding) e da melhor amiga, Hunter (Virginia Gardner). Um movimento em falso leva o homem à queda mortal. A elipse que suprime quase um ano arremessa o espectador na depressão profunda da viúva “emburacada”. O diretor Scott Mann lança mão de uma série de lugares-comuns para mostrar que Bekcy está no fundo do poço, a começar pelas incursões prolongadas por bares nos quais ela se embebeda para sublimar a dor. Quem tenta tira-la do limbo é o seu pai, James (Jeffrey Dean Morgan), sujeito que diz algo do tipo: pare de chorar tanto, pois o falecido não era flor que se cheirasse. Além da insensibilidade paterna vista sem nenhum senso crítico, há na afirmação uma preparação de terreno à confirmação da sensatez do sujeito, no fim das contas. Então, o roteiro de Jonathan Frank e Scott Mann defende que Becky deveria sofrer menos porque foi enganada.

Sendo assim, para começo de conversa, há uma simplificação que percorre toda a trama de A Queda. O retorno repentino da melhor amiga – depois desse ano de afastamento e exatamente no instante em que Becky iria cometer um erro enorme –, a convocação para a aventura, as resistências mal encenadas, tudo isso retira a espessura dramática do que está em jogo. Ainda dentro dessa construção superficial, está a noção implícita de que a protagonista deverá superar seus medos e encarar a morte para finalmente voltar a valorizar a vida. Scott Mann traça esse caminho com simplismo, passando por cima de nuances e ambiguidades, tratando subtextos como temperos que buscam (em vão) adicionar algum sabor a um molho insosso que vai apenas engrossando pelo acréscimo de elementos. Isto, enquanto continua sem sabor. O fato de Hunter construir a sua persona aventureira para faturar uma grana como youtuber não tem qualquer importância, senão como conveniência para ela carregar ao desafio um drone que será fundamental como aliado numa improvável sobrevivência ao acidente no alto de uma torre de 600 metros de altura no meio do nada. Em nenhum momento essa necessidade de tornar tudo célebre e se comprometer para produzir conteúdo encontra espaço para ser discutida. Desse modo, não faria diferença se Hunter fosse outra coisa que minimamente pressupusesse riscos.

Voltando à questão mais ampla relativa aos filmes com abordagens de esportes radicais. A Queda não enfatiza os esforços físicos para, primeiro, subir manualmente os 600 metros da torre de televisão situada no meio do deserto, e, segundo, sobreviver quando as escadas de aceso sucumbem ao movimento das jovens que desperta os efeitos do tempo. Quanto à subida, ela é feita em meio a elipses que abreviam o trajeto, não conferindo ao espectador uma noção aproximada de tempo percorrido e de empenho muscular/mental. Já quando as personagens ficam restritas a uma pequena plataforma da qual não conseguem sair, o cineasta ressalta pouco a necessidade de resiliência para não esmorecer física, psicológica e emocionalmente. O mais próximo que ele chega da construção de um suspense é a feitura de vários planos-detalhe de estruturas cedendo e com isso anunciando uma potencial tragédia. Outro elemento que joga contra a elaboração de uma atmosfera de suspense é a utilização burocrática e desinteressante da trilha sonora. Os crescendo musicais (aumento gradual de volumes e tons) são utilizados para demarcar o andamento das cenas rumo aos seus respectivos desfechos dramáticos. Portanto, com exceções que confirmam a regra, a música “sobe” até culminar no ponto mais alto da ação. Com esse procedimento repetido, geralmente antevemos a trajetória do suspense.

A Queda não destaca apropriadamente os perigos. O itinerário visual proposto por Scott Mann não aproveita a característica asfixiante da falta de espaço com a qual as personagens devem lidar e sequer elabora a altura como uma sinalização de abismo. O cineasta prefere trabalhar questões mais simplórias, como quando Hunter se confessa à amiga por não saber se sairá viva da empreitada – e é tão ostensiva a preparação da “surpresa” que ela se torna previsível. A revelação poderia acentuar a tensão da convivência ao oferecer novos dados ao martírio das amigas que gradativamente perdem as esperanças de saírem vivas da aventura que prometia lhes devolver a plena vontade de viver. Desinteressante por não explorar intensamente as restrições espaciais e as condições desfavoráveis, o filme dá mais importância aos acertos de contas do que necessariamente às proezas e aos contratempos. A própria traição serve tão e somente para que, no fim das contas, a razão esteja evidentemente ao lado do pai amoroso e preocupado. Numa aventura genérica em que a emoção é diluída pelo tédio, Becky aprende a amar a vida depois de ela quase se esvair. E parte dessa disposição por seguir adiante vem do fato de que o falecido marido/namorado realmente não era flor que se cheirasse – ainda que o único indício disso seja o caso extraconjugal. Moralismos de um filme em que nem o plot twist nos mobiliza, pois a surpresa não é suficiente (por ser mal elaborada como dispositivo) para diminuir o torpor.

Redação Papo de Cinema

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