Crítica


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Sinopse

Um casal passa por dificuldades por conta de uma questão de ordem sexual. Uma mulher apenas fica satisfeita ao ver o namorado chorar. Um homem descobre algo a respeito de si mesmo quando deixa a namorada inconsciente.

Crítica

Há algo que parece faltar durante todo o desenrolar das ações vistas em A Pequena Morte. A referência do título pode não ser imediata, mas ela diz respeito ao orgasmo. A expressão se tornou comum primeiro entre os franceses, numa tentativa de explicar o êxtase após o gozo, ao término da ejaculação. Ou seja, é um momento de pleno prazer, em que esquecemos de tudo e relaxamos por completo. O oposto, portanto, do comportamento dos personagens dessa comédia dramática feita na Austrália mas que, talvez pelo tema inusitado, acabou ganhando o mundo. Não que seja isenta de méritos que justifiquem uma atenção mais detalhada. Apenas parece não encontrar o caminho certo para o objetivo que se propõe, ou seja, provocar satisfação.

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O diretor e roteirista Josh Lawson, em sua estreia como realizador, é também o protagonista de uma das tramas. Sim, pois não contente em narrar uma história, ele escolheu logo cinco que servissem como ilustração dos problemas possíveis de ser enfrentados por casais no momento do sexo. E não são também conflitos dos mais comuns – afinal, expô-los em cena sem uma abordagem inovadora seria no mínimo banal – mas são discutidas situações bastante específicas, talvez não impossíveis, mas ainda assim um tanto bizarras. A ligação entre elas se dá de duas formas. A mais óbvia é pela proximidade temática, o que já seria suficiente na composição do longa. Mas Lawson força a barra, provocando interações em seus cotidianos, a maior parte delas sem muito sentido. Para piorar, há uma sexta trama, provocada por um personagem em particular, que navega entre elas sem muito propósito além da mera curiosidade – ou talvez na tentativa de dotar o material exposto de algum conteúdo crítico, porém sem muito efeito.

Um casal está há seis anos juntos e vivem o ápice da felicidade e do entrosamento entre eles até que ela lhe faz uma confidência: gostaria de ser estuprada. E não quer saber quando. Nem como. Ou seja, o bom mesmo seria se ela nem se desse conta do responsável. Mas então... poderia ser qualquer um? Outro casal quer engravidar. Ele se excita com qualquer coisa, e a todo momento a chama para simplesmente ejacular dentro dela, imaginando que assim estão agindo da melhor maneira. Ela, pelo contrário, perdeu o prazer. Não o gostar, pois ainda o ama. Só não tem mais tesão. Até o dia em que o pai dele morre e ela o vê chorando pela primeira vez. E aquilo a deixa muito excitada. Agora, como seguir deixando-o triste regularmente a ponto da vida sexual deles voltar aos eixos? E há outros tipos, como o homem que acaba levando a sério demais a ideia de representar outros papeis em jogos sexuais com a esposa ou o jovem surdo que recorre a uma linha de apoio a deficientes para praticar telessexo e acaba se interessando pela telefonista. E pra terminar, um criminoso sexual que já cumpriu sua pena, mas ao se mudar para uma nova residência precisa notificar os vizinhos de sua condição, não sem ajeitar as coisas para distraí-los da verdade.

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Ainda que Lawson aposte numa suposta variedade de comportamentos, as figuras dramáticas que cria são tão uniformes que se o espectador não estiver muito atento é capaz de confundir uma dupla com outra, como se fossem quase clones entre si. São todos brancos, na faixa dos 30 anos, bem sucedidos e em início de suas relações familiares. Não há diferenças de idade, de etnias, de orientação, credo ou raça. Essa homogeneidade exagerada – que acaba tendo uma ou outra exceção, e de forma bastante pontual – termina por deixar seu discurso monótono, dificultando uma maior identificação. Talvez fosse esse mesmo seu objetivo, identificar uma postura própria destes tipos de casais. Mas consegue o inverso, eliminando o prazer de sua narrativa e deixando tudo muito óbvio. E assim tem-se um filme insípido, sem cores nem sabores, capaz de atiçar uma curiosidade inicial que, infelizmente, nunca chega a ser atendida à altura das expectativas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
4
Alysson Oliveira
2
MÉDIA
3

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