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Sinopse
Em A Mulher no Jardim, após sair de uma relação abusiva, uma mulher encontra refúgio trabalhando como cuidadora em uma casa isolada. No entanto, o aparente sossego se desfaz quando ela começa a perceber a presença misteriosa de uma figura feminina no jardim. À medida que os segredos do local vêm à tona, passado e presente se entrelaçam. Horror.
Crítica
É curioso notar como certos nomes se associam a gêneros com tamanha força que nem sempre resistem à verificação mais atenta. Jaume Collet-Serra, por exemplo, é frequentemente lembrado por empreitadas como A Casa de Cera (2005) e A Órfã (2009), que ganharam status cult nas madrugadas televisivas. Mas sua carreira, na verdade, é mosaico de incursões variadas, incluindo parcerias de grande orçamento com Liam Neeson e Dwayne Johnson, em obras mais afeitas à ação e ao suspense de ritmo acelerado. Em A Mulher no Jardim, o diretor catalão retorna a terreno de tensão mais subjetivo, ainda que menos sobrenatural e mais psicológico. O resultado, porém, revela-se oscilante, como se o caminho de volta às raízes tivesse sido traçado com alguma hesitação.
A narrativa gira em torno de Ramona, mulher que, após se mudar para casa isolada, perde o marido em acidente trágico e precisa criar o casal de filhos sozinha. Ao mesmo tempo em que lida com essas situações difíceis, ela se depara com uma misteriosa – e insistente – mulher em seu jardim. Quem a encarna é Danielle Deadwyler, intérprete indicada ao Oscar, que aqui entrega atuação crua e densa. Seu domínio da personagem é instigante – da fragilidade emocional às reações contidas.
A construção adotada por Collet-Serra remete, em certos momentos, ao estilo de M. Night Shyamalan, especialmente por investir em estruturas que se desdobram como labirintos. Um acontecimento inicial é posto e, a partir dele, camadas vão se revelando. Trata-se de engrenagem bem lubrificada, cuja principal virtude está na montagem: rápida e incômoda. Nesse contexto, destaca-se também a figura de Okwui Okpokwasili, atriz e performer experimental que surge como presença enigmática. Sua interação com Deadwyler resulta em momentos de magnetismo.
Mas é importante observar que não há soluções simplistas nesse trabalho. Tal como Presença, recente realização de Steven Soderbergh, o longa se abre a múltiplas leituras, muitas vezes entregando mais perguntas que conclusões. Embora haja quem identifique ali mensagens claras, o percurso até elas é atravancado por escolhas estéticas que, apesar de ousadas, podem diluir o impacto da experiência. A aposta de misturar nuances psicanalíticas com traços de narrativa fantástica requer firmeza, e nem sempre ela se concretiza com clareza ou equilíbrio.
Ainda assim, é preciso reconhecer o empenho do roteirista estreante Sam Stefanak em propor história que, mesmo tropeçando em seu excesso de símbolos, tenta fugir das armadilhas mais fáceis do gênero. A ausência de sustos gratuitos, o investimento em atuações densas e o desejo de dialogar com temas contemporâneos são qualidades que se destacam. Falta, porém, um cuidado: ideias demais podem transformar boa iniciativa em terreno disperso. No fim das contas, A Mulher no Jardim até nos convida a caminhar por espaços sombrios e intrigantes, mas, como nos devaneios de Ramona, nem sempre sabemos ao certo o que é realidade, ou se deveríamos mesmo saber.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Victor Hugo Furtado | 5 |
Ailton Monteiro | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
Chico Fireman | 5 |
MÉDIA | 5 |
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