Crítica

Quando assisti a Redentor, em 2004, tive a impressão de estar diante do nascimento de um grande cineasta. Mas Cláudio Torres não poderia fazer na sequência um filme mais decepcionante do que este A Mulher do Meu Amigo, que por mais incrível que possa parecer é baseado numa peça de Domingos de Oliveira! Largando o Escritório, o título do texto original, certamente deve ser um trabalho menor do criador de obras tão relevantes quanto Amores e Separações. Porque nada minimamente interessante poderia resultar em algo tão catastrófico como o conferido aqui.

A Mulher do Meu Amigo é justamente aquilo que se imagina ao ver o cartaz: uma comédia pastelão em que amigos traem amigos com as mulheres uns dos outros. Marcos Palmeira é casado com Mariana Ximenes, que é amante do melhor amigo dele, Otávio Müller, que por sua vez é marido da Maria Luísa Mendonça, que logo descobre que está apaixonada pelo Marcos Palmeira – e ele por ela. No meio deste “Quatrilho” modernizado, há ainda o pai da Ximenes, interpretado por Antônio Fagundes, que além de sogro é também patrão do personagem do Palmeira. Os dois são advogados, numa empresa daquelas bem clichê: exploradora, milionária, ambiciosa. Num final de semana na casa da serra com os quatro amigos, acaba vindo à tona o que um sente pelo outro, com o protagonista abandonando o trabalho e decretando que a partir daquele momento só irá fazer o que lhe atrai. Ximenes e Müller gostam da ideia. Ele e Mendonça, ainda mais. Só que Fagundes não curte muito – ele quer um neto!

A tentativa de fazer uma comédia de erros é frustrada pela falta de mão do realizador – mais afeito ao humor negro, pelo que se percebe – e pela desorientação do elenco. Cada um está por conta própria, sem direção ou fundamento. A graça alterna entre situações dignas da Zorra Total com outras tão patéticas que chegam a ser merecedoras de pena. Marcos Palmeira, um ator experiente, está completamente equivocado, sem nunca conseguir encontrar o tom exato. O mesmo pode ser dito tanto de Maria Luísa Mendonça – um atriz ótima em drama, porém sem timing para comédia – e Mariana Ximenes é uma intérprete que obviamente rende de acordo com o material fornecido, nunca conseguindo ir além. E quando a fonte é fraca, seu desempenho será equivalente. Já Müller é um erro, grotesco e aparvalhado, enquanto que o único que parece se divertir é Antônio Fagundes – mesmo que seja apenas do lado de lá da tela.

Lançado no centro do país no final de 2008, somente agora A Mulher do Meu Amigo chegou aos cinemas do Sul. E o que intriga não é o por quê da demora, e sim quais são os motivos que levam a distribuidora a insistir num projeto tão fracassado quanto tolo. Mas todos parecem já ter superado o trauma: Claudio Torres vem aí com A Mulher Invisível, também com Maria Luísa Mendonça, enquanto que Marcos Palmeira e Mariana Ximenes estão novamente juntos em Bela Noite Para Voar. Ou seja, se eles conseguiram esquecer rapidamente esta bobagem, nós também somos capazes!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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