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Sinopse

Sem tantas alternativas em virtude de sua atuação eticamente duvidosa, o jornalista Charles Tatum pleiteia emprego num jornal pequeno do Novo México. O fluxo monótono do trabalho é interrompido quando um homem fica preso numa mina. Tatum, então, vislumbra a possibilidade de ganhar notoriedade, nem que isso signifique implique prolongar deliberadamente o martírio da vítima e ameaçar sua vida.

Crítica

“Diga a verdade”. Estas três simples palavras aparecem emolduradas na parede da redação de um jornal, no início de A Montanha dos Sete Abutres, décimo filme dirigido por Billy Wilder. Considerando que a obra traz no centro da narrativa um repórter capaz até de mentir para emplacar grandes histórias nos jornais, tais palavras representam praticamente um aviso com relação ao que veremos. Afinal, é isto que esperamos que jornalistas façam: mantenham as pessoas informadas sem apelar para manipulações que encubram a verdade, não prejudicando ou beneficiando alguém injustamente. À medida que a história se desenrola, Billy Wilder mostra como envolver o público, pela maneira como aborda tais questões.

Escrito pelo próprio diretor em parceria com Lesser Samuels e Walter Newman, A Montanha dos Sete Abutres acompanha Chuck Tatum (Kirk Douglas), repórter que está apenas em busca do próprio sucesso, principalmente depois de ser demitido de um jornal de prestígio em Nova York. Aceitando trabalhar quase de graça em uma publicação pequena de Albuquerque, Tatum logo fica impaciente com a falta de grandes eventos para cobrir. Isso até o dia em que encontra Leo Minosa (Richard Benedict), homem preso embaixo dos escombros de uma velha montanha, local cuja história envolve uma espécie de maldição. Tatum então vê a oportunidade que tanto esperava, tornando o ocorrido o centro das atenções da mídia e fazendo com que o resgate a Leo demore mais que o planejado, já que assim poderá explorar ao máximo a notícia do momento.

Billy Wilder faz de A Montanha dos Sete Abutres um conto sobre ética jornalística e sensacionalismo midiático, explorando o lado ruim de tudo isso, algo que diferencia a produção de outras similares, como a também obra-prima Todos os Homens do Presidente (1976). À primeira vista poderíamos admirar o fato de Chuck Tatum trazer repercussão gigantesca para um acontecimento que poderia ser ignorado. Mas por isso ser feito puramente em benefício próprio, com ele manipulando a informação que tem em mãos, bem como as pessoas ao seu redor, para aproveitar cada vez mais o que ocorre com Leo, o filme acaba sendo interessante na dimensão das consequências. Além disso, o roteiro faz um belo retrato das pessoas que gostam de servir-se desse jornalismo corrupto, e não deixa de ser ideal que elas também apareçam tirando vantagem da situação.

Mas A Montanha dos Sete Abutres também é um ótimo estudo de personagem. Vivido com segurança absoluta pelo magnífico Kirk Douglas, Chuck Tatum é uma figura cuja ambição é ofuscada pelos próprios egoísmo e arrogância. Ele não mede esforços para que a notícia funcione perfeitamente conforme seus interesses, como bem podemos ver na cena em que a esposa de Leo, Lorraine (Jan Sterling), interessada sexualmente por ele, apanha para aparentar tristeza. E mesmo quando o personagem mostra um pouco de sensibilidade por Leo, é fruto de uma preocupação primeira consigo. Para completar, é bacana ver como Billy Wilder estabelece a personalidade do protagonista através da roupa. Em boa parte do filme, Tatum aparece com uma camisa preta, o que cria um contraste com o figurino mais claro dos repórteres de pouco sucesso do jornal em Albuquerque, além de estabelecer a influência que o protagonista tem no novato Herbie Cook (Robert Arthur), que o segue ao longo de toda a história e passa a usar a mesma roupa mais tarde.

Apesar de ter recebido uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro, A Montanha dos Sete Abutres não foi muito bem recebido na época de seu lançamento, tendo ainda fracassado nas bilheterias. Mas o cinema constantemente concede novas chances para determinados filmes, e com o passar do tempo a obra de Wilder teve suas qualidades reconhecidas, tornando-se outro clássico na carreira do cineasta. O que é um alívio, já que este trabalho certamente não merece ser esquecido.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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