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Sinopse

Los Angeles, anos 1970. Uma assistente social é obrigada a criar seus dois filhos sozinha depois de ficar viúva. Sua vida sofre outra drástica mudança quando começa a ver semelhanças entre um caso que está trabalhando e a entidade sobrenatural A Chorona. A lenda conta que, em vida, ela afogou seus filhos e depois se jogou no rio, se debulhando em lágrimas. Agora chora eternamente, capturando outras crianças para substituir os que perdeu.

Crítica

Parte da saga Invocação do Mal, A Maldição da Chorona começa apresentando uma mulher (vivida por Marisol Ramirez) que, no século 17, afoga seus filhos num lago mexicano. Ela se transforma, posteriormente, no espírito obcecado por repor as crianças assassinadas, virando, então, uma folclórica alma penada. Aliás, quando a trama se desloca ao passado até a fotografia muda, artifício que, aqui, aponta ao caráter excessivamente explicativo do longa-metragem. Outro elemento sintomático disso é a frequência com que conjunturas são esmiuçadas em meio à suposta aura de pavor. Sempre há uma pessoa, ou algumas, disposta a deixar tudo esclarecido, nos mínimos detalhes, talvez por medo de que a plateia se afogue nessa poça d’água. Sim, pois a narrativa é superficial, calcada apenas em tentativas aborrecidas de pregar sustos. O terror tem, assim, efeitos passageiros, gerados a partir de figuras “horripilantes” saindo previsivelmente de espaços escuros, dos sons que antecipam sem gerar expectativa e de toda sorte de equívocos que se acumulam.

A Maldição da Chorona centraliza a figura da mãe coragem, aqui parcamente edificada por Linda Cardellini. A atriz não consegue conferir à protagonista, Anna, mais do que um semblante franzido. Viúva em plenos anos 70 nos Estados Unidos, a personagem sentencia involuntariamente dois garotos à morte, ao agir em prol de suas seguranças. A culpa passa longe de ser esquadrinhada mais à frente, até porque essa assistente social deve se preocupar com a integridade dos próprios filhos, logo tornados alvos prioritários do fantasma que verte lágrimas de saudade antes de aterrorizar suas vítimas. Exalando ingenuidade e simplismo, o roteiro permite certos buracos, como a demonstração teimosa e forçada do ceticismo de alguém que passou por vários instantes de contato efetivo com o sobrenatural. À incredulidade de Anna é atribuído um peso de fraqueza praticamente moral, componente que acaba colocando as crianças ainda mais em risco. Portanto, ela deve aceitar a existência do além para entender o mal que está à sua espreita.

Valendo-se de jump scares e fake scares, ou seja, de procedimentos que visam causar consecutivos sobressaltos, A Maldição da Chorona é problemático não apenas estruturalmente, mas também no que tange à representação, principalmente a dos mexicanos. Num velório, o curandeirismo de latino-americanos é estudado de longe pelo padre. Ele não chega a externar dúvida quanto à efetividade daqueles procedimentos, mas estabelece uma ponte entre os que creem e o cristianismo. Patricia (Patricia Velasquez), a enlutada outrora alvo da Chorona, é uma estrangeira capaz de rezar para que vinganças se realizem e, adiante, cometer impropérios que atravancam o caminho da família principal. E, por último, mas não menos estereotipado, Rafael (Raymond Cruz), ocultista, cuja casa parece saída diretamente de um manual de como estigmatizar uma raça. As paredes repletas de beberagens, ingredientes cabalísticos e amuletos se encarregam disso.

Não bastasse esse acúmulo de fragilidades que gera aborrecimento, A Maldição da Chorona ainda recorre a expedientes questionáveis, como o fato do espírito não atravessar portas e paredes quando conveniente ao clima de terror pretensamente em construção. Em certas cenas ele é capaz de trafegar livremente por ambientes, em virtude de não ter um corpo físico. Já em outras tantas, faz uso de maçanetas, escadas e afins para acentuar a ameaça e colocar uma pá de terra sobre a coerência interna. Há, ainda, tentativas de fazer comédia ao longo da história, especialmente ao Rafael utilizar onomatopeias a fim de pretensamente aliviar passagens alimentadas pela tensão. O recurso é tolo e pouco efetivo, a não ser como porta ao ridículo. As subjacentes questões familiares não são desenvolvidas paralelamente para constituir uma argamassa sólida. Por fim, mesmo afirmando que a ameaça não se vincula à casa, mas às crianças, o curandeiro resolve fazer o ritual ali (?), demarcando espaços interditados e armadilhas enfadonhas, aliás, como todo o resto no filme.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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