 
            Crítica
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Sinopse
A Longa Marcha se passa em um Estados Unidos distópico, governado por um regime totalitário. É neste cenário que um grupo de jovens participa de uma competição anual de caminhada. Para sobreviver, devem manter uma velocidade de no mínimo três milhas por hora, ou correm o risco de serem executados. A competição só termina quando resta apenas um caminhante vivo. Horror.
Crítica
Stephen King tem grandes acertos no currículo. Mas também tem uns deslizes que, vamos combinar, seria de deixar qualquer autor menos experiente envergonhado. A Longa Marcha: Caminhe ou Morra parece se encaixar nessa segunda definição. O uso do condicional diz respeito por ser um texto que se ocupa do filme, e não do livro. E é sabido que adaptações podem se mostrar tão fiéis à obra original, quanto completamente díspares de sua fonte. Da maneira como ele tem participado ativamente da divulgação do longa, é se de supor, portanto, que tenha aprovado o resultado. O que não deixa de ser duplamente frustrante. Afinal, o próprio King não deve ter muito apreço por seu trabalho. Esse foi o primeiro livro que escreveu em toda a sua carreira, quando tinha apenas 19 anos. Outro indicativo é que optou por assinar com um pseudônimo – Richard Bachman – ao invés de usar seu nome real. Por fim, ainda que o texto tenha sido finalizado em 1967, a primeira edição é de julho de 1979, ou seja, mais de uma década depois. E importante não esquecer: este é um dos autores mais frequentes nas telas do cinema. Como essa transposição pode ter demorado tanto? Basta assistir ao resultado para se ter certeza de que, se impresso seu alcance já se mostrava derivativo e genérico, enquanto cinema se confirma ainda mais passageiro.
O crítico de cinema Alysson Oliveira, do site Cineweb, descreveu A Longa Marcha “como uma mistura de A Noite dos Desesperados (1969) com Jogos Vorazes (2012)”. Tal apontamento não poderia ser mais preciso. Porém, duas ressalvas se fazem necessárias: falta ao filme de Francis Lawrence tanto o alicerce dramático do clássico de Sydney Pollack, como a transgressão e ousadia da saga cujo primeiro capítulo foi levado às telas por Gary Ross. Afinal, por mais que o texto de King tenha sido publicado algumas décadas antes da obra da Suzanne Collins, essa versão cinematográfica chega às telas tendo no comando o mesmo cineasta que assinou nada menos do que quatro dos cinco longas desse universo distópico. É pedir demais que seus esforços pregressos não tenham influenciado essa ocupação mais recente. Ambas histórias se passam em um futuro decadente, com jovens sendo escolhidos como representantes de suas regiões e sendo colocados para competirem uns contra os outros em enfrentamentos mortais. A diferença é que, ao invés de luta e estratégia, aqui se fala basicamente de resistência. Como diz o subtítulo nacional, caminhe ou morra.

Por isso a citação do longa estrelado por Jane Fonda no final dos anos 1960. No romance de Horace McCoy, diversos casais se sujeitam a participar de um concurso de dança que só termina quando apenas uma dupla segue em pé. Com pés sangrando, fadigas extremas, câimbras diversas e ápices de fome e sede, moças e rapazes se sujeitam a esse tipo de teste num Estados Unidos durante os anos da Grande Depressão para conseguir qualquer tipo de esperança. Ou seja, para sobreviver, aceitam morrer. Mais ou menos o que acontece em A Longa Marcha. Dessa vez, são apenas homens os selecionados, um de cada estado, que devem caminhar por uma estrada sem fim até não sobrar mais nenhum. É preciso manter um ritmo constante, e não pode parar – nem para descanso, nem para necessidades fisiológicas, nem para qualquer outro tipo de distração. Os que não cumprirem os requisitos, recebem advertências. Após a terceira, há a eliminação. E não se trata apenas de perder. O que estes recebem é um tiro na cabeça. A morte é certa. E o General (Mark Hamill, irreconhecível) está lhes acompanhando, para que ninguém fuja das regras por ele mesmo impostas. Já aquele que conseguir permanecer indo em frente, o último a sobrar, a este serão destinadas as glórias do campeão. Mas do que adianta celebrar quando não há mais ninguém ao seu redor capaz de aplaudi-lo – ou mesmo confirmar sua vitória?
O roteirista JT Mollner (Desconhecidos, 2023) parece disposto a tirar leite de pedra para encontrar distrações em uma trama que é nada mais do que um grupo de rapazes caminhando do início ao fim. Lawrence, por sua vez, prefere se apoiar nos jovens talentos reunidos, como se estes fossem capazes de fazer milagres frente a diálogos motivadores que soam como se tirados de um livro de autoajuda. Cooper Hoffman, como protagonista, é aquele que desafia qualquer credibilidade. De físico roliço como o pai – o saudoso Philip Seymour Hoffman – é certo que alguém como ele não duraria muito diante de uma prova tão extenuante como essa. Contrário a qualquer probabilidade, no entanto, ele fará amizades a cada novo passo e ainda se esforçará para manter seus colegas em movimento, como se não tivesse entendido a proposta que lhe foi feita no momento em que aceitou participar da caminhada. Ou seja, com a profundidade de um pires, com um elenco no qual poucos são os que conseguem se destacar e com um enredo reiterativo que a todo instante fica repetindo as mesmas palavras de ordem, A Longa Marcha: Caminhe ou Morra termina por se mostrar tão cansativo para o espectador como deve ter sido para os personagens na ficção – e mortalmente enfadonho para qualquer um que busque encontrar aqui algo além daquilo já muito visto em exemplos similares – e superiores.
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Grade crítica
| Crítico | Nota | 
|---|---|
| Robledo Milani | 4 | 
| Francisco Carbone | 8 | 
| Alysson Oliveira | 4 | 
| Ticiano Osorio | 8 | 
| Carlos Helí de Almeida | 4 | 
| MÉDIA | 5.6 | 
 
 
 
				
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