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Sinopse
Em A Hora do Mal, na madrugada de uma quarta-feira qualquer, várias crianças, colegas de sala de aula, sumiram misteriosamente, com exceção de um único jovem. Exatamente às 2h17 da manhã, acordaram e saíram no escuro, sem qualquer sinal de violência, e nunca mais voltaram. Agora, os adultos buscam entender por qual motivo apenas os alunos da professora Gandy desapareceram. Horror/Mistério.
Crítica
“Ontem à noite, às 2h17 da manhã, todas as crianças da sala da sra. Gandy acordaram, levantaram da cama, desceram as escadas, abriram a porta da frente, saíram no escuro… e nunca mais voltaram”.
Mais do que uma premissa, esse texto acima, que se encontra estampado no pôster de divulgação de A Hora do Mal, aponta para o início de uma trama intrincada cuja resolução virá somente a partir do momento em que o espectador abrir mão de qualquer tipo de plausibilidade calcada em uma verossimilhança factual e investir no sobrenatural e fantástico. Mas o detalhamento narrativo, que serve de porta de entrada – e de gancho para fisgar os curiosos – é também tendencioso. Afinal, é equivocado afirmar que foram afetadas “todas as crianças da sala da sra. Gandy”, para começo de conversa. Afinal, elas estavam em suas casas, e não na escola. E segundo, não foram “todas” que exibiram tal comportamento, para em seguida desaparecerem. Uma delas permaneceu como se nada tivesse acontecido. Na manhã seguinte, quando a sra. Gandy entrou na sala de aula, essa estava parcialmente vazia. O pequeno Alex ali estava, sentado em seu lugar, esperando pelo início das atividades. Mais estranho, portanto, seria o comportamento dela… ou a atitude dele?
A Hora do Mal é um filme coral. Ao todo são seis capítulos, cada um dedicado a um personagem em particular, para que no desenrolar dos acontecimentos a audiência vá, aos poucos, montando um quebra-cabeças que oferecerá apenas em parte uma solução ao mistério que intriga essa pequena cidade no interior dos Estados Unidos. O primeiro recebe o nome justamente da sra. Gandy, interpretada com limitada angústia por Julia Garner. Vencedora de 3 Emmys, a atriz vista recentemente como a Surfista Prateada de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (2025) oferece o que sabe melhor: uma composição sutil, porém mergulhada no desespero e na ignorância de que passo tomar a seguir, mais ou menos como havia feito no igualmente impressionante A Assistente (2019). Assim como todos da região, ela anseia por saber o que aconteceu. Mas os pais dos meninos e meninas desaparecidos insistem em suspeitar dela. Porém, se a professora não estava com eles, por quê teria se tornado ela motivo de desconfiança de toda uma cidade? O desvio de foco é intencional, e faz parte do jogo narrativo.
Depois temos Archer (Josh Brolin, combinando força bruta com uma emoção prestes a entrar em erupção), um dos pais, decidido a encontrar respostas por conta própria. Marcus (Benedict Wong, que vai do pacificador ao aterrorizante em instantes) é o diretor indeciso entre o tanto que não sabe e o pouco que lhe resta a ser feito. Paul (Alden Ehrenreich, um tom aquém dos colegas de elenco) é o guarda de trânsito que se envolve em distrações corriqueiras para não ter que enfrentar a prisão na qual se meteu, entre uma esposa sufocante, um patrão-sogro que não lhe respeita e uma amante de ocasião. James (Austin Abrams, que havia conseguido roubar as atenções de George Clooney e de Brad Pitt em Lobos, 2024, em mais uma performance catalizadora) é o junkie da região, o viciado que vê mais do que é capaz de distinguir e, justamente por isso, não percebe o perigo no qual termina por se meter. Por fim, há o próprio Alex (Cary Christopher, visto em Uma Mente Excepcional, 2024), o menino que pouco fala, mas muito guarda dentro de si – e no que observa ao seu redor.
A chegada de uma tia há muito afastada da família, uma arma que se forma entre as nuvens sobre uma das casas vista como vértice dos piores acontecimentos, uma suspeita crescente que aos poucos vai tornando cada um dos envolvidos em possíveis culpados, a ausência de livre arbítrio e um controle somente possível de ser explicado por meio de uma magia intensa e silenciadora. Estes são apenas alguns dos elementos combinados com diligência e precisão por Zach Cregger. O diretor e roteirista havia demonstrado apelo a um viés perturbado e perturbador além das primeiras aparências em seu longa anterior, Noites Brutais (2022). Tanto um quanto outro se mostram como cebolas, revelando-se aos poucos, camada após camada. E a cada nível de entendimento apresentado, outros pesadelos emergem ao olhar do público, a ponto desse se perguntar até que ponto o cineasta será capaz de ir rumo ao macabro. As ilusões não perduram por muito tempo em A Hora do Mal, um apontamento que não se restringe ao horário acusado pelo relógio, contorcendo-se enquanto imagem, mas também como memória em um processo coletivo de horror e abnegação. São muitos os pontos de vista, mas o destino é um só. Chegar até esse ponto, portanto, exige um preço, valor esse que não está contido apenas na experiência, mas em tudo que ela carrega consigo para muito depois do término da sessão.
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