Crítica

Essa nova versão de A Hora do Espanto é feliz por tantos motivos que chega a ser difícil saber por onde começar a enumerá-los. O elenco afiado, o ritmo eletrizante, o tom que combina com sabedoria humor e terror, a direção segura do diretor, o momento preciso do seu lançamento: tudo combina para um verdadeiro hit. E justamente por isso é quase impossível explicar a razão do seu fracasso nos cinemas norte-americanos. Cegueira coletiva, talvez? Ou simplesmente – e mais provável – falta de percepção para não levar as coisas tão à sério.

Sucesso em 1985, o primeiro A Hora do Espanto virou com os anos um clássico do gênero Sessão da Tarde – ou seria Corujão? – como um filme de culto de adolescentes oitentistas atrás de adrenalina na medida certa. Tanto que três anos depois viria uma continuação, no entanto sem o mesmo impacto. Agora, mais de vinte e cinco anos depois, essa refilmagem consegue a proeza de manter o mesmo nível da produção original, apenas lidando habilmente com os elementos já explorados anteriormente. Tudo em cena – a trilha constantemente exagerada, as interpretações carregadamente exageradas, o horror explícito – nos leva a uma viagem no tempo, como se estivéssemos revivendo as mesmas emoções daquela primeira vez, há mais de duas décadas. Adicionando a essa equação, felizmente, um visual de efeitos e finalização adequados à tecnologia hoje em dia disponível.

Colin Farrell estava desde Miami Vice (2006) longe do grande público. Nesse meio tempo trabalhou com diretores renomados, como Woody Allen (O Sonho de Cassandra, 2007), Terry Gilliam (O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, 2009), Neil Jordan (Ondine, 2009) e Peter Weir (Caminhos da Liberdade, 2010), ganhou um Globo de Ouro (Na Mira do Chefe, 2008), e foi coadjuvante em produções elogiadas, como o drama Coração Louco (2009) e a comédia Quero matar meu chefe (2011). Ou seja, não estava exatamente desocupado, mas merecia mais atenção. Aqui ele é a força motora da ação como o vampiro Jerry, que quando se muda para a casa vizinha de Jane (Toni Collette), passa a despertar a suspeita do filho dela, vivido pelo talentoso Anton Yelchin, já visto em papéis menores em filmes como Star Trek (2009) e Exterminador do Futuro: A Salvação (2009), aqui finalmente como protagonista. A verdade não demora para vir à tona, e o embate para ver quem sobrevive promete emoções do início ao fim.

O diretor Craig Gillespie pontuou no cenário hollywoodiano pela primeira vez com o ótimo A Garota Ideal (2007), que chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Após derrapar feio com a comédia Em Pé de Guerra (2007), se refugiou na televisão, em séries como United States of Tara e My Generation. Esse remake é sua oportunidade de mostrar que ainda tem muito a oferecer na tela grande. Afinal, é merecedor de parabéns uma produção do gênero que, no meio de tantos vampiros que andam dominando a mídia pop – True Blood, The Vampire Diaries, Saga Crepúsculo – consegue inovar e surpreender, ainda mais partindo de um material previamente conhecido. Divertido, muito bem humorado, terrivelmente assustador e com efeitos 3D dignos do recurso, esse novo A Hora do Espanto é a pedida perfeita para qualquer apreciador do tema sábio o suficiente para não perder o sono com qualquer bobagem.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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