Crítica


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Sinopse

Fundado por um grupo de operários no bairro do Bom Retiro, o Sport Club Corinthians Paulista é considerado um dos times mais importantes do futebol brasileiro. Porém, nem sempre foi assim. Visto com repúdio, devido a seu sucesso entre classes menos favorecidas, o clube precisou lutar muito para chegar ao patamar que ocupa atualmente. O filme se debruça sobre a construção do tão sonhado estádio próprio, a casa do povo.

Crítica

O Sport Club Corinthians Paulista é um dos times mais tradicionais e vitoriosos do futebol brasileiro. Mas, durante muito tempo, seus milhões de torcedores tiveram de conviver com as piadinhas dos adversários pelo fato do clube não possuir um estádio próprio com dimensões e acomodações condizentes com sua grandeza. Essa chacota vigorou por mais de 100 anos. Em 2014, o corinthiano, finalmente, viu a Arena de Itaquera ser finalizada. A História de um Sonho: Todas as Casas do Timão se propõe a uma espécie de exumação da relação dessa agremiação amada com os espaços pelos quais passou durante décadas, experimentando neles vitórias em maior medida, mas também tendo de engolir infortúnios esportivos dolorosos. A estrutura do documentário é bastante convencional, mas funcional no sentido de oferecer um painel relativamente amplo dessa trajetória que culminou com a inauguração do campo que, enfim, era do chamado “bando de loucos”.

A História de um Sonho: Todas as Casas do Timão começa abordando um bonito anseio, enfileirando depoimentos acerca da vontade corinthiana de ter uma casa para chamar de sua. Os vislumbres do terreno em Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo, especialmente os primeiros movimentos do maquinário que providenciou a terraplenagem, são, nas imagens resgatadas de arquivo, celebradas como o fim de uma carência. Os diretores Ricardo Aidar e Marcela Coelho pinçam exemplos sintomáticos, como o dos sujeitos que fizeram vigília nos lotes vizinhos a fim de testemunhar a história do clube sendo escrita. Tais vislumbres são intercalados com depoimentos de grandes jogadores, de várias épocas do Corinthians, durante o jogo-teste que serviu à abertura do estádio. Assim, se consegue ter uma ideia significativa de ambos os momentos, com o antes do pontapé inicial auxiliando a configurar a importância daquela "pelada" festiva e tão aguardada.

Todavia, os realizadores, cedendo ao impulso de expandir o objeto de estudo, ou precisamente de permitir que outros elementos fortes se imiscuam na narrativa principal, tornam A História de um Sonho: Todas as Casas do Timão um filme disperso. Utilizando no limite do burocrático as falas de um historiador que menciona as primeiras sedes do Corinthians, Ricardo Aidar e Marcela Coelho logo deixam o conjunto novamente desbancar para a paixão do torcedor, a capacidade que ele sempre teve de tomar de assalto a “casa” dos coirmãos. Portanto, o dado emocional sobrepuja, às vezes desajeitadamente, o painel que se pretende construir em torno da noção da relevância da Arena de Itaquera. Desse modo, o documentário acaba sendo um deleite para corinthianos, que têm à disposição várias histórias de apaixonados com os quais certamente se identificar. Em determinados instantes parece que o filme é sobre o propalado “corinthianismo”, não bem focado no estádio.

Passando longe de observar as complexidades que circundam a construção da Arena de Itaquera, A História de um Sonho: Todas as Casas do Timão assume tintas laudatórias, nem sequer mencionando os acidentes fatais no decurso da obra ou as polêmicas envolvendo a complexa engenharia financeira. Ricardo Aidar e Marcela Coelho fazem um filme bem próximo do institucional. Eles evitam se achegar demasiadamente das arestas, demorando também a colocar o Pacaembu “em campo”, fazendo isso quase findo o segundo terço do conjunto, decisão estranha, uma vez que o  estádio Paulo Machado de Carvalho foi a mais emblemática das moradias “temporárias” corinthianas. Colando episódios de relevância afetiva à torcida, como a invasão ao Maracanã em 1976 e os inúmeros títulos nos gramados adversários, os diretores deixam ainda mais evidente a abertura a outros componentes, algo que faz o filme gradativamente ser destituído de precisão. Conseguem, porém, preservar a pulsação de um fanatismo que, afinal, tem uma casa própria para se manifestar plenamente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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