Crítica


1

Leitores


10 votos 5.6

Onde Assistir

Sinopse

Ariana é o tipo de aluna que passa despercebida na escola. Isso muda quando, sem querer, ela posta um vídeo na internet em que se declara ao garoto mais popular das redondezas.

Crítica

Conhecida por suas participações em novelinhas juvenis como Chiquititas (2013-2015) e As Aventuras de Poliana (2018-2019), Sophia Valverde é também reconhecida como uma das maiores influenciadoras digitais do Brasil, com mais de 12 milhões de seguidores no instagram e outros 1,4 milhão no youtube. Isso parece ter sido suficiente para que fosse levada a se ver como uma atriz pronta a encarar o desafio de protagonizar um longa-metragem. O resultado é esse A Garota Invisível, cujo resultado só não é mais constrangedor porque, devido os créditos envolvidos, ninguém em sã consciência deveria esperar algo muito melhor do que o que aqui se encontra. Apesar de contar com a direção de Maurício Eça, o filme é não mais do que um produto nitidamente comercial, cujas improváveis ambições artísticas – se é que essas de fato existiram – acabam abafadas diante das óbvias necessidades de promover o nome da menina à frente do elenco, sem demonstrar qualquer tipo de esforço para disfarçar – ou talvez superar – as evidentes limitações da produção.

Filmado durante a quarentena provocada pela pandemia do coronavírus de 2020, A Garota Invisível tenta a todo instante criar um mundo de fantasia onde essa restrição nunca teve efeito. Portanto, nenhum dos seus personagens chegam a sequer aparecer num mesmo quadro com outro – salve uma ou duas exceções, se tanto. Assim, desculpas esfarrapadas tentam justificar aulas online – afinal, a maioria dos atores são adolescentes em idade estudantil – ou conversas que se dão através de telas – smartphones, computadores, laptops – marcam a narrativa do início ao fim, num tom cansativo e desgastante. Ao invés de incorporar uma situação que afetou não a um ou outro lugar específico, mas ao mundo inteiro, a dramatização proposta por Livia Alcade e C.Jos Bravo – ambos estreantes no formato – é insuficiente para criar um ambiente minimamente crível. O que se vê como resultado são personagens isolados uns dos outros, mas que se esforçam constantemente para soarem muito mais próximos do que, enfim, estão.

Esse artificialismo não se dá somente em diálogos ou interações – nas quais, é preciso ser dito, recursos gráficos e uma edição esforçada colaboram para propor um mínimo de dinamismo ao conjunto – mas também em recursos que se comprovam falhos pelo ridículo que ressaltam – como, por exemplo, o primeiro encontro romântico da protagonista, quando cabe ao espectador vê-la apenas saindo de casa, para logo em seguida retornar, restando um exagero de diálogos expositivos que justifiquem aquilo que as imagens não foram capazes de construir. Ou a presença de adultos, cujas vozes são apenas ouvidas – a impressão é de se estar diante de um antigo desenho de Tom & Jerry! A exceção que confirma a regra é o professor vivido por Marcelo Várzea (visto recentemente na série Samantha!, 2019), que para validar sua presença se vê no meio de cenas escatológicas envolvendo flatulências descontroladas e tendo que lidar com baratas e outras interferências gratuitas apenas na busca de um riso tolo e imediato.

É importante ser dito, também, que você já viu esse filme antes: e, provavelmente, numa experiência melhor. Valverde aparece como a tal garota invisível do título, a inteligente que só tira boas notas, mas que não é descolada como as demais meninas ou mesmo com os garotos e que, por isso, sente como se ninguém a percebesse. Uma confusão na internet faz com que ela, enfim, seja notada. Enquanto as colegas se ocupam em debochar dela, e o melhor amigo fará de tudo para que perceba que os sentimentos dele vão além da mera amizade, será o galã de ocasião que irá aproveitar a oportunidade para se aproximar e, com isso, garantir a ajuda necessária para passar de ano. Um imbróglio já visto à exaustão em filmes que se tornaram referências nos anos 1980, mas que agora, quatro décadas depois, soam mais previsíveis do que qualquer oferta da Sessão da Tarde.

Entre clichês como “a linda que se sente feia apenas para, logo em seguida, se descobrir bonita” ou o menino negro que está em cena apenas para preencher uma cota racial, ao invés de propor uma inserção natural da negritude, A Garota Invisível provoca ainda maior espanto diante dos créditos anteriores de Eça, responsável por sucessos de bilheteria – Carrossel: O Filme (2015) e Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina (2016), juntos, levaram mais de 5 milhões de pessoas aos cinemas – e obras que se pretendiam autorais (Apnéia, 2014, foi premiado no Festival de Amsterdã e selecionado para o Festin Lisboa). Dessa vez, o cineasta dá a entender ter esquecido o que alcançou com seus trabalhos anteriores, entregando algo que, na melhor das hipóteses, pode ser considerado amador. E assim, entre sequências de puro embaraço e atuações risíveis, o que se verifica é algo que nenhum efeito terá em ampliar a audiência de Valverde, falando apenas para os já convertidos, e afastando com tantos tropeços qualquer desavisado que daqui se aproximar.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *