Crítica

Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, A Garota Ideal é uma das produções mais interessantes da penúltima temporada – sim, pois ele chega agora ao Brasil com mais de um ano de atraso! Lançado em 2007, encontrou forte concorrência e terminou passando despercebido pelo público, apesar do forte reconhecimento crítico. Ao menos os brasileiros estão tendo a oportunidade de conferir na tela grande esta história inusitada e singela, dotada de uma melancolia e de uma delicadeza ímpar, que apesar do início esquivo termina por conquistar até mesmo os mais desconfiados.

Lars (Ryan Gosling, indicado ao Globo de Ouro, ao Broadcast, ao prêmio do Sindicato dos Atores e o dos Críticos de Chicago, além de ter ganho o Satellite por esta performance) é um rapaz comum que vive numa gélida cidadezinha no interior dos Estados Unidos. Tímido e introvertido até o extremo, mora na garagem da casa dos seus pais, onde agora vivem o irmão mais velho e a cunhada. Sua rotina é muito simples: todo dia sai apenas para ir ao trabalho, com exceção dos domingos, quando assiste à missa na Igreja. Um dia, no entanto, conhece uma garota brasileira pela internet, e decide chamá-la para viver com ele. O problema é que ela chega dentro de uma caixa – afinal, trata-se de uma boneca de plástico! Mas essa realidade, percebida por todos ao redor dele, é ignorada por ele, que a trata desde o primeiro instante como se fosse uma garota real. Aconselhados por uma psicóloga, sua família decide agir da mesma forma, logo conquistando a boa vontade e a atenção de todos no vilarejo. Afinal, por que não permitir que um pouco de fantasia invada a vida deles, se for para o bem de um membro da comunidade?

O cenário surreal que se instaura lá pela metade de A Garota Ideal só é superado pela total simpatia que o projeto adquire aos olhos de quem o assiste. Sim, é absurdo esperar que um público tão fugaz como o de hoje acredite que uma cidade inteira possa compactuar com uma brincadeira sem um propósito definido além de procurar entender o outro. Mas é justamente por esta compreensão com aquele que é diferente que o filme assume um valor muito maior do que o imaginado. Estamos diante de uma fábula, e como tal deve ser encarada: um conto mágico, porém dotado de uma mensagem valiosa e que deve ser analisada e absorvida com entusiasmo.

Dirigido pelo estreante Craig Gillespie e com roteiro – vencedor do National Board of Review – de Nancy Oliver (autora de vários episódios das séries Six Feet Under e True Blood), A Garota Ideal tem como ponto forte a interpretação sensível e absurdamente cativante de Gosling, um ator que começou a chamar atenção em produções adolescentes (Duelo de Titãs, Cálculo Mortal) e, após alguns sucessos populares (Diário de uma PaixãoUm Crime de Mestre) tem conquistado o respeito e admiração da crítica, tanto por este trabalho como também pelo inédito no Brasil Half Nelson, pelo qual foi indicado ao Oscar em 2007. Mas a despeito do bom elenco (Emily Mortimer e a sempre ótima Patrícia Clarkson também são destaques) e do roteiro criativo e bem amarrado, este é um filme que conquista pelo tom humano assumido em seu discurso. Boa gente não é aquele que não se comover com a trajetória de Lars e sua nova paixão. Afinal, para encontrar o verdadeiro amor é preciso antes descobrir a si mesmo!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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