Crítica


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Sinopse

Morticia e Gomez começam a sentir os efeitos do crescimento de seus endiabrados filhos. Para tentar uma reconexão, eles decidem embarcar com Wandinha, Feioso, Tio Chico para o que eles chamam de férias miseráveis.

Crítica

Quando os personagens criados por Charles Addams foram levados pela primeira vez aos cinemas, em A Família Addams (1991), a trama girava em torno da possibilidade de um membro do clã ser ou não legítimo. Na sequência, A Família Addams 2 (1993), o mesmo se repetia, e não apenas alguns velhos conhecidos refutavam a presença de um recém-chegado, como também um dos antigos se via tolhido da companhia dos demais. Deixando as versões com atores de lado, A Família Addams (2019) pode ter se apresentado como animação, mas sua história girava por caminhos bem conhecidos: a inadequação dos protagonistas diante dos outros membros da sociedade. Pois bem, não chega a ser surpresa, portanto, que este A Família Addams 2: Pé na Estrada opte por se guiar através de direções corriqueiras, sem ousar ir além do esperado. Os tipos no centro da ação podem parecer estranhos, mas os eventos que os cercam não possuem, mais uma vez, nada de novo.

Como o título adianta, dessa vez não estão mais em casa: como se isso fizesse alguma diferença. Juntos, Mortícia e Gomez, acompanhados pelos filhos Wandinha e Feioso, além do tio Chico e do mordomo Tropeço – e da Mãozinha, é claro – decidem que nada melhor do que uma viagem em família para reconectar os laços entre eles. Tudo isso porque a primogênita decide faltar a um jantar comemorativo após sua participação na Feira de Ciências da escola – ela até foi premiada com seu projeto, mas os colegas também, pois o objetivo dos professores era reconhecer o empenho, e não os efeitos práticos de cada invenção, o que a deixa profundamente deprimida. Chama mais atenção, portanto, esse movimento dos pais para reverter algo que sempre fora apresentado como o estado comum da garota.

Visitar pontos turísticos dos Estados Unidos até poderia render ganchos interessantes em um enredo que se assumisse como road movie, ou seja, uma história de estrada que fizesse uso dos novos cenários para acentuar as transformações dos envolvidos pela viagem. Mas não é isso que acontece. Eles podem se atirar nas cataratas de Niágara, bancar os caipiras em um hotel no Texas ou assustar pessoas inocentes em uma praia de Miami, mas nada do que lhes ocorre parece ter qualquer significado no minuto imediatamente posterior. Já se sabe que os Addams são praticamente indestrutíveis, quase imortais. Então, como se importar com os supostos “perigos” com os quais se defrontam? Quando decidem dar uma parada no Grand Canyon, não precisa ser nenhum gênio para adivinhar que em questão de segundos estarão explodindo tudo ao alcance da vista, para logo em seguida partirem adiante, como se nada tivesse ocorrido. Qual o propósito, portanto?

Pois bem, se nada lhes abate fisicamente, então a recomendação afirma que o ponto frágil estará no emocional. E como o levantamento apontado no início desse texto não deixa dúvidas, basta ameaçar retirar um dos Addams do núcleo familiar para que todos se sintam ameaçados. Dito isso, a falta de originalidade é tamanha que, se no longa anterior era Wandinha que num primeiro momento encontrava alguma simpatia com os hábitos dos vizinhos “normais”, ou seja, refutando os costumes familiares – mais por um ato de rebeldia do que por crença real – mais uma vez estará ela no cerne do debate proposto: a menina teria sido adotada? E, se tal conjuntura se mostrasse possível, quais afinidades teria com sua verdadeira família de origem?

Misturando elementos há muito vistos – e esgotados, como o gênio que quer dominar o mundo, mas não passa de um tolo carente e assustado, como em O Poderoso Chefinho 2 (2021) – com características muito especificas, mas aqui apenas requentadas, sem a devida reciclagem, A Família Addams 2: Pé na Estrada comete o cúmulo de ainda desperdiçar figuras importantes, como Mortícia – dessa vez não mais do que uma coadjuvante de luxo – ou o Primo It – que, ao menos, no único momento de maior destaque, consegue justificar a dublagem original de Snoop Dogg – enquanto outros, como o tio Chico e o caçula Feioso, se veem envolvidos em subtramas tão irrelevantes quanto desnecessárias (melhor nem se aprofundar na tentativa de incesto entre o garoto e uma possível irmã afetada pelo cruzamento com genes suínos para não piorar as coisas). Previsível do início ao fim, sem nada de novo a oferecer e acomodado em percorrer caminhos que criações menos interessantes já trilharam com maior efeito, o conjunto se mostra tão indigesto quanto esquecível. Os Addams – e seus fãs, principalmente – mereciam mais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
3
Ailton Monteiro
6
MÉDIA
4.5

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