Crítica

Uma das produções menos lembradas de Walt Disney, A Espada Era a Lei foi a ultima animação sob a supervisão do gênio por trás do estúdio, já que logo ele viria a falecer. Apesar de não ser das obras mais populares entre os clássicos da produtora, o longa é uma volta da Disney às animações baseadas em contos universais. No caso, a história de como era o reino de Arthur antes de ele embainhar a espada e ser conclamado o líder máximo da Inglaterra. A história é baseada no livro A Espada na Pedra, de T.H. White, mas a liberdade criativa mostrada na tela gerou críticas dos fãs da literatura, que não gostaram do excesso de magia e ingenuidade da narrativa em sua versão cinematográfica. Puro preconceito, pois apesar da trama mais simples, o vigor técnico e a simpatia do filme conquistam a todos.

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A Inglaterra da Idade Média que se passa na história é uma terra sem dono, já que o último rei havia falecido há algum tempo e não tinha herdeiros para assumir o trono. Em meio à decadência do reino, uma espada surgiu dos céus e foi cravada em uma pena. Apenas quem conseguisse tirá-la dali seria coroado rei. Obviamente, muitos tentaram, mas ninguém conseguiu. Eis que Merlin, o mago que tudo sabe, tem uma visão de que um jovem garoto vai sentar em sua mesa trazendo consigo coragem além da imaginação. Pois após uma confusão com seu meio-irmão, Arthur - ou Wart, apelido que todos o conhecem -, vai parar na presença do mágico, que pretende ser seu tutor para lhe ensinar como lidar com as adversidades da vida através da inteligência e não da força bruta. Assim, passam um bom tempo com Merlin treinando o jovem rapaz até seu fatídico e esperado clímax.

Foi a primeira vez que os estúdios Disney produziram um prequel de uma história conhecida. Toda a narrativa se concentra na vida de Arthur em sua adolescência, muitos antes de ele se tornar rei. O retrato do personagem não poderia ser mais simples: ele é um garoto comum explorado pelo padrasto e o meio-irmão, quase como uma Cinderela de cueca já que sempre precisa cozinhar, limpar a casa, lavar a louça, etc. O garoto chega até a ser irritante de tão apagado e sem personalidade na maior parte das vezes, fazendo tudo que lhe dizem. O que lança uma luz sobre ele é a presença carismática de Merlin, retratada como um idoso esperto e inteligente na mesma proporção em que é uma figura atrapalhada e que provoca risadas da platéia pelo seu jeito e também pelas falas impagáveis (como a hora em que ouve um mensageiro falar sobre grandes notícias e manda sua coruja Arquimedes voar para ouvir tudo de perto, pois não quer esperar doze séculos parfa ler o jornal).

Por sinal, Arquimedes preenche a cota de animais coadjuvantes e falantes da Disney que se tornaram marca dos estúdios ao longo dos anos. Rabugento de bom coração, o animal diverte justamente pela facilidade com que seu mau humor se torna alvo de piadas e risos quase involuntários. Porém, nada seria interessante se não houvesse um vilão para contrapor a jornada dos heróis. No caso, Madame Min, uma bruxa feia que vive na floresta e quer atrapalhar os planos de Merlin a todo custo. Ainda que não figure no rol de maldade como Malévola ou a Rainha Má, tem sua dose de carisma. Fato que se comprovou ao longo dos anos quando a personagem passou do filme para os quadrinhos nos dias atuais, se tornando a melhor amiga da Maga Patalógica criada por Carl Banks.

Kim

Além de personagens queridos, A Espada Era a Lei ainda apresenta um trabalho de produção visual muito acima de muitas produções. Não bastassse retratar fielmente os castelos e feudos da era medieval, as cores com predominância escura dão o tom ao período obscuro em que a Inglaterra vive, mesmo que entre em contraste com o alto bom humor da produção. Ainda que não seja uma aventura de cavaleiros no molde tradicional (já que Merlin e Wart se transformam em vários animais para superar desafios ao longo da narrativa e quase não há batalhas), o longa ganha mais pontos por apresentar Arthur na sua maior fragilidade, quebrando o estereotipo de rei inatingível e o humanizando de todas as maneiras possíveis com suas dúvidas e inseguranças. Uma obra que merece ser revista e alçada a posições melhores no ranking de melhores animações da Disney. Legado que Walt deixou de forma irrepreensível na história do cinema.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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