Crítica
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Sinopse
Junie tem 16 anos, acabou de perder a mãe e mudou de escola no meio do ano letivo. Rapidamente enturmada, a bela garota começa a namorar com Otto, mas se apaixona pelo professor de italiano, Nemours.
Crítica
O novo longa do diretor francês Christophe Honoré, A Bela Junie, é daqueles que chegam de mansinho, como quem não quer nada, mas que no término da sessão já nos conquistou irremediavelmente! Ele não desperta grandes expectativas, motivando até a sala de exibição somente os mais curiosos ou receptivos com cinematografias estrangeiras. O diretor não é muito conhecido, o elenco está repleto de rostos jovens e atraentes, porém pouco populares, e o fiapo de trama – garota nova chega na escola e desperta o interesse romântico de um colega de aula e de um professor ao mesmo tempo – soa bastante clichê. Porém, é importante prestar bastante a atenção: aqui temos de tudo, menos soluções fáceis, reviravoltas esquemáticas ou fatos previsíveis. Estamos, por fim, diante de personagens complexos e verdadeiros, absolutamente envolventes, e vivemos os dilemas por eles enfrentados com uma intensidade ao mesmo tempo incômoda e apaixonante.
A adolescente Junie (Léa Seydoux) perdeu a mãe recentemente, e há anos não convivia com o pai. Assim, é adotada pelos tios e levada a morar em Paris. No meio do ano letivo ela ingressa na mesma classe do primo e passa a conviver com os amigos deste. Triste, tímida e retraída, aos poucos vai ganhando confiança e despertando o interesse dos novos colegas – principalmente dos meninos. Bonita, logo começa a namorar Otto (Gregoire Leprince-Ringuet), um dos rapazes mais bonitos do colégio. Mas tudo estava fácil demais, seguro demais, óbvio demais. E o cenário muda quando entra em cena o professor de italiano, Nemours (Louis Garrel), um galã de 25 anos, tão imaturo quanto seus alunos, que se diverte conquistando as jovens pupilas. Mas para ele também a novata representará um desafio. E, mesmo sem que nada aconteça, tudo muda na vida nos três. E com sentimentos abalados, confianças perdidas e desejos frustrados, nada mais será igual. E nem mesmo uma terrível tragédia poderá evitar o colapso pessoal de cada um dos envolvidos – em ambos os lados da tela.
A Bela Junie é um filme de grandes emoções e poucas ações. Quase nada acontece – estamos diante do cotidiano estudantil, onde a rotina impera e qualquer novidade rapidamente assume aspectos grandiosos, por mais insignificante que seja. Mesmo assim, há muito a ser dito, vivenciado e experimentado. Mundos se sucedem em colisões internas o tempo todo, e as verdades expostas nas expressões de cada um adquirem tons intensos e cores fortes mesmo sob o frio intenso do inverno europeu, carregado por fortes casacos e mantas espessas. O jovem Honoré é sábio em provocações, aliando polêmicas fáceis sem resvalar nas mesmas, usando-as mais como um tempero diferente dentro de um caldeirão prestes a entrar em ebulição. Ele é seguro de suas intenções, e mesmo dando a entender que poderá seguir por outros caminhos, logo está novamente na direção inicial, e os objetivos propostos são atingidos com força e determinação. E o resultado é não menos do que arrebatador.
Este é o quarto trabalho do atraente Garrel (Os Sonhadores) sob o comando de Honoré, após Ma Mére (2004), Em Paris (2006) e Canções de Amor (2007). E é impressionante perceber a maturidade do ator crescendo junto com os personagens que interpreta. O triângulo amoroso formado por ele ao lado da irresistível Seydoux e do inocente Gregoire é um dos mais belos do cinema recente, e deve provocar suspiros até nos mais desavisados. Dono de uma melodia triste e absurdamente envolvente, A Bela Junie transforma um episódio até mesmo corriqueiro em algo definitivo, que perdurará nas existências de todos os envolvidos. E o mais triste de tudo é a nossa imobilidade, vendo tudo sem poder fazer nada. Mas, se isso fosse possível, será que saberíamos como agir? Ou, como em muitas vezes nos acontece, permaneceríamos imóveis diante a imutabilidade das coisas? Reflexivo, apaixonante e doloroso, este é um filme que provoca lágrimas e sorrisos, dores e amores, e que deve ser sentido, e não meramente absorvido. Ele fala com o coração, e quando este está em jogo nada pode ser explicado através da lógica. No mundo da emoção, é impossível ser racional. E apesar de ser muito mais difícil de ser conquistada, aqui a felicidade é plena e irreversível. Mesmo que por poucos momentos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 8 |
Ailton Monteiro | 7 |
Carissa Vieira | 8 |
MÉDIA | 7.8 |
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